quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Lendas de Manguezal - Parte III - As Cinco

Manguezal é uma dessas cidades costeiras muito pequenas do interior do nordeste, coberta de mata e com um mangue que faz a economia girar, com poucos habitantes e famílias que têm muitos filhos. Como muitas cidades do interior, temos histórias e lendas que assombram os mais céticos. Uma delas é sobre as cinco bruxas. Ainda no século 17, no antigo convento da companhia de Jesus que hoje está abandonado, houve uma rebelião das freiras que causou a expulsão de cinco delas para as matas. As mulheres que estavam no convento eram índias que moravam na região, assim como mulheres que foram condenadas em Portugal por prostituição, bruxaria e até meninas que foram abusadas ou abandonadas pelos familiares por algum motivo nefasto e tiveram que pagar penitência no local. O convento era um lugar de sofrimento para elas, uma prisão que tinha uma rotina rígida e que as faziam pagar duramente pelos crimes por quais foram condenadas. Mas havia também uma grande troca de conhecimento e união entre as mulheres, o que as fizeram planejar várias rebeliões, sendo a mais famosa uma tentativa de fuga, matando o padre responsável. Foram rapidamente capturadas e julgadas. Cinco delas foram expulsas do local, como bodes expiatórios. Elas tiveram as mão e pernas amarradas, os olhos vendados e foram largadas no meio da mata, sem terem como se proteger dos perigos do lugar. Segundo os relatos, o padre que cuidava do convento na época se chamava Francisco Gonçalves e ele se certificava que as freiras fossem humilhadas e torturadas, tentando fazê-las se purificarem pelos pecados cometidos. Muitas delas tiveram as línguas cortadas, os olhos arrancados e dizem que as mais ariscas chegavam a ter as entranhas retiradas e deixadas para morrer agonizando. Diziam que as freiras sofriam também todos os tipos de abuso sexual, engravidando e tendo os filhos jogados ao mar. Segundo as lendas, os corpos dos bebês foram se acumulando no fundo do oceano, virando uma criatura marítima que um dia irá se levantar e inundará a cidade com uma enorme onda.

Não se sabe do paradeiro das cinco freiras expulsas, mas acredita-se que elas construíram um chalé no meio da mata e segundo as lendas, fizeram um pacto com a divindade Conorihi, idolatrada pelos nativos que ali moravam antes da invasão portuguesa. No pacto elas pediram vida eterna e vingança. Para isso, elas foram inseminadas e tiveram cada uma um filho do que muitos consideram ser demônios trazidos ao mundo como castigo pelo sofrimento do povo que ali morava e das mulheres que viviam no convento. Uma das crias se tornou a doença do mangue que se alimenta de seres vivos de uma forma cruel e repugnante. Uma das filhas passou a vigiar a cachoeira que fica em um rio no meio da mata chamado Pupti, que desagua no mar de Manguezal. Atrás da cachoeira fica uma gruta onde os nativos acreditavam viver Conorihi e que se estende pelo subsolo de toda a cidade, mas nunca foi totalmente explorada. Um dos seus filhos virou um monstro que faz com que os sétimos filhos dacidade se transformem em uma mutação animalesca e selvagem entrehomem e onça.  Há também a filha do mar, um peixe de cauda longa que se transforma em uma linda mulher e seduz os pescadores que conseguem pesca-la, levando-os a um destino cruel. Acredita-se que quem conseguir leva-la para a terra terá abundância por toda a sua vida e por toda a vida dos seus descendentes. Por fim, há também o filho das matas, um conjunto de árvores que se alimentam dos andarilhos perdidos e dos animais que por ali vivem. Quem se perde nas matas e não for absorvido pelas árvores, irão se deparar com uma visão que o perseguirão pelo resto vida. O filho das matas está sempre vigiando e dizem que as suas raízes se espalham por toda a floresta amazônica e além. Ele tudo sabe, ele tudo vê.

O padre Eduardo Álvaro, que assumiu o convento após a rebelião, construiu um altar embaixo de uma grande pedra, hoje localizada na beira da estrada há uns 10 quilômetros da cidade. Antigamente, estátuas das cinco mulheres ficavam expostas no altar para que os seus rostos nunca fossem esquecidos, e acima das imagens eram pendurados vários triângulos feitos de gravetos da floresta, símbolo de Conorihi, e várias cruzes que permanecem no local. Hoje em dia as estátuas se encontram no museu do farol, junto com os relatos sobre quem era cada uma delas. Há sempre velas acesas no local do altar. Todos os dias alguém tem de ascender as velas, pois acredita-se que elas impedem que as cinco bruxas invadam a cidade e matem todos os moradores, pois eles também participaram do exilo. Algumas pessoas dizem ter avistado as cinco bruxas vagando pela cidade na noite de ano novo antes de eles caírem em um sono profundo, e que elas são as responsáveis por isso, soprando na brisa um sonífero potente.

O altar assombra os caminhoneiros que por ali passam. Alguns deles dizem ver uma mulher vestida de branco, com o cabelo ruivo e longo, vagando próximo ao local, grávida e prestes a dar a luz, pedindo socorro aos motoristas. Aqueles que deram carona a ela relatam que após alguns minutos a mulher some da cabine sem deixar traços.

Poucas pessoas conseguiram avistar o chalé construído pelas mulheres. Para vê-lo, você teria de ouvir o chamado delas. O chamado das cinco é muito famoso na cidade e só atinge os homens, que sentem pavor dessa história. Acontece a cada 11 anos em alguma noite de outono. Caso o chamado seja ouvido, a pessoa terá de ir até elas, senão uma maldição se cairá sobre a sua família. As plantações murcharão, a pesca apodrecerá, os familiares morrerão um por um de cólera, mas quem ouviu o chamado, continuará vivo e sozinho em uma sobrevida de fome, miséria e exílio, sabendo que quem se aproximar estará fadado ao mesmo destino da sua família. Então, a única forma de se livrar da maldição é ir até esse chalé ao encontro das bruxas. Quem já foi, diz que fizeram parte de um ritual em que elas os fazem entrar em transe, são desnudados e elas o fazem beber sangue em um cálice feito de madeira da mata de coloração vermelho-sangue, e então o homem é coberto por uma seiva malcheirosa verde-amarronzada que lembra o cheiro de petrificação e os paralisas, mas fazendo-os sentir tudo mais intensamente e se conectarem a êxtase das mulheres e sentir a natureza maliciosa das árvores que o cercam. Em seguida as mulheres o estimulam e misturam o sêmen do homem com o sangue no cálice e bebem. Elas passam a dançar ao redor dos homens, cortando-lhes superficialmente a pele com um punhal e deixando o sangue encharcar o chão, eles então veem uma menina que aparenta ter entre 11 e 12 anos, que está coberta com a mesma seiva e que tem as pernas manchadas de sangue. Elas a deitam em um altar e uma das mulheres se deita em cima dela, absorvendo-a em seu ventre, que se abre, para receber a criança. O homem então vê a bruxa que absorveu a criança rejuvenescer. Assim que o ritual acaba elas pegam um galho de uma árvore e colocam fogo, queimando a cocha do homem. Após a noite na mata o homem é largado no meio da estrada, nu. Em sua coxa esquerda aparecerá a queimadura de um triângulo, que demorará de curar. Quem tem essa marca, diz que ela sempre volta a doer como se tivesse sendo queimado novamente toda vez que ele passa perto do altar na estrada. Após esse encontro com as cinco bruxas, nunca mais eles acham o chalé novamente. Mas eles relatam que sentem um mal estar vindo das matas e preferem evitar o local. Dá para perceber o medo no rosto deles.

Hoje há apenas uma pessoa que diz ter vivido essa experiência. Ele relata ter ouvido o chamado vindo da mata e um cheiro horrível no ar. O chamado ficava mais alto com o passar das horas. Chegava a ser enlouquecedor, segundo ele, pois era seguido de uma música horripilante, com tambores e flautas desconexas e um canto assombroso. Ele sabia que tudo que deveria fazer era seguir o som e no caminho pôde ver triângulos pendurados nas árvores. Ele relatou ainda ter visto algumas árvores com imagens que pareciam rostos o encarando, de pessoas e de animais, e que os troncos pareciam se mexer. Ele podia jurar que algumas daquelas árvores tinham vida e emitiam um som murmurante de choro. Apesar de assustado, ele sabia que se não achasse o chalé, os seus pais, os seus filhos e a sua mulher iriam morrer e ele teria de conviver com a solidão, a miséria e o exilo até o fim da sua vida. E ele diz não se arrepender da sua escolha.

Um dos seus filhos esteve comigo na noite de ano novo em que passamos no convento, após completarmos 11 anos. O garoto está em estado catatônico, mas o homem diz que as vezes sonha com o menino – hoje já com 21 anos - naquela fatídica noite de ano novo, vendo uma mulher com longos cabelos grisalhos e uma camisola branca encarando-o no convento. A mulher tinha olhos brancos e a boca escancarada, tentando gritar, mas sem emitir um só som. Ele vê em seus sonhos a mulher levando uma garota para um lugar no chão e então sumindo. Em seguida o garoto é cercado pelas cinco bruxas, que parecem o reconhecer. No sonho elas sequestram uma outra garota e somem na mata, mas não sem antes falarem com o garoto que conheciam o seu pai e que uma parte dele vaga pelas matas como um animal faminto, provavelmente se referindo ao seu sétimo filho. Em seguida elas dizem algumas palavras desconhecidas e sopram um pó no rosto da criança que não consegue mais se mexer, presa em seu próprio corpo.

Dizem que todas as noites de ano novo, ao menos duas crianças somem. Uma vai para o farol e a outra para a mata. E que por isso a brisa vinda do mar as vezes parece soar como o choro sofrido de crianças. Dizem que as crianças que são levadas pela freira pelo túnel secreto que leva ao farol são jogadas da janela mais alta que ali se encontra, pois ela se tornou a guardiã do monstro marinho que a população crê morar no mar de Manguezal. Acredita-se que as crianças sejam um sacrifício a essa criatura marítima, para que ela nunca se levante. Muitos acham que a mulher sacrifica as crianças pois o seu bebê também foi jogado ao mar se metamorfoseando com o que já havia ali, um ser amorfo e gigante feito dos bebês do convento que foram jogados ao mar e tornaram-se algo sedento por vingança. Essa é uma versão sobre o que acontece com as crianças, pois também se acredita que elas estão presas nesse túnel que conecta o convento abandonado ao farol e que a mulher as matam e em seguida toma conta das almas delas, como se fossem o filho perdido.

Quanto a segunda criança que some, sempre uma menina, há algumas versões sobre o que acontece com ela. Há quem diga que ela é oferecida em sacrifício ao demônio Conorihi e que são servidas em um banquete entre as cinco bruxas após estas se banharem em seus sangues, como uma forma de se manterem imortais. Alguns relatam que elas são servidas como alimento para o filho das matas, que as absorvem através dos caules das árvores, tornando-se mais forte e com raízes mais longas. Os seus rostos ficam cravados nos caules dessas árvores em eterno lamento. Alguns acreditam que as bruxas precisam dos corpos das meninas porque transferem a essência delas para o corpo juvenil para se manterem sempre vivas. Ninguém sabe se isso é verdade, porque ninguém nunca viu o que acontece com as crianças desaparecidas do convento. Mas é essa a história que passamos de geração para geração. E é só uma questão de tempo para que um de nós ouça o chamado das cinco bruxas, pois 11 anos já se passaram.

Sobre as cinco freiras que foram expulsas do convento e são chamadas de bruxas, há registros sobre elas no farol de Manguezal. A história da condenação é famosa e está documentada. A primeira era uma índia nativa da região, uma anciã curandeira que conhecia todo o local, suas matas, as plantas e as ervas, e usava o seu conhecimento para cuidar da aldeia. Era também uma parteira e os nativos acreditavam que os bebês que ela ajudava a trazer ao mundo eram abençoados diretamente por Conorihi e seriam grandes guerreiros caçadores da onça-pintada. Era muito respeitada entre os seus e soube usar o seu conhecimento para envenenar alguns dos portugueses que primeiro chegaram na terra e tentaram subjugar e escravizar o seu povo. Ela foi batizada de Ofélia Barbosa, mas o seu nome real era Mayara. Antes de ser levada ao convento, passou alguns dias entre os portugueses sendo espancada, o que causou grande revolta na aldeia, fazendo que o seu povo se revoltasse e tentasse salvá-la, sendo massacrados no processo.

A segunda freira era também uma mulher nativa, considerada uma grande guerreira que sabia imitar os sons da floresta e tinha uma voz doce como a de um uirapuru, porém movia-se silenciosamente. Foi Mayara que a trouxera ao mundo. A índia foi capturada ao tentar resgatar a curandeira. Conseguiu matar 11 portugueses sozinha. Ela arrancava a língua dos seus detratores, as exibindo em um colar como símbolo da sua bravura. Assim que capturada, teve a língua cortada e foi aprisionada no convento. Foi batizada de Genilda Barbosa e era chamada entre as freiras de mudinha, como uma forma de tentar humilha-la. Mas o seu nome real era Anaí.

A terceira era uma mulher portuguesa condenada por bruxaria. Era na verdade uma mulher que tinha conhecimento de medicina e a sua especialidade era abortar crianças indesejadas. Como tinha cabelos ruivos e pintas pelo corpo, a sua associação à bruxaria aconteceu durante toda a sua vida e por isso era muito perseguida e indesejada. Foi presa por ter não ter conseguido salvar uma jovem nobre durante o processo de aborto. Foi condenada a ir para o mundo novo e a viver no convento por toda a sua vida. Era alvo particular do padre, com quem teve vários filhos e sempre a fazia assisti-la jogar os bebês pela janela logo após ela dar a luz, como penitência pelos bebês que ela abortou.

A quarta era filha bastarda de um nobre português, que dizem ter tido a menina com a filha mais velha. Como ela era supostamente fruto de um incesto, ainda criança foi entregue para um convento onde viveu boa parte da sua juventude. Após a morte do pai, ela foi levada para o novo mundo e escondida no convento como um segredo sujo. Era muito católica e devota e mesmo assim não se livrou das crueldades do padre Francisco Gonçalves, que arrancou os seus olhos. O seu nome era Conceição, o seu sobrenome era desconhecido.

A quinta era uma prostituta que foi condenada por seguir a religião judaica e diziam ser grande conhecedora da cabala. Era de uma beleza estonteante e tinha longos cabelos negros. Teve os seus cabelos raspados antes de ser enviada para o novo mundo. Foi abusada inúmeras vezes na caravela em que estava e chegou com sífilis avançada, com o corpo todo tomado por manchas. Também teve o seu rosto desfigurado por causa das surras que recebeu na viagem. Estava muito debilitada quando foi exilada para as matas. O seu nome era Jéssica Bacelar.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Lendas de Manguezal - Parte II - O farol

 Manguezal é uma cidade pequena demais para constar nos mapas. Não adianta procurá-lo no google maps, você só verá mato. E é bom que seja assim. Aqui vivemos da pesca, da caça e do mangue. Muitas famílias têm pequenas hortas e costumamos nos ajudar, trocar alimentos que plantamos, que pescamos e que caçamos. Vivemos bem assim, na medida do possível. Vendemos muita coisa para as cidades vizinhas pequenas como a nossa e assim fazemos a economia da cidade girar. Há uma escola municipal na cidade que vai até o 5º ano e precisamos ir para uma cidade maior, há uns 100 quilômetros de distância, se quisermos terminar os estudos. Se desejamos ir para uma faculdade, precisamos nos mudar para São Luís, a capital de Maranhão, ou para outro estado. E para os que se aventuram em uma vida longe de Manguezal, temos de retornar eventualmente, pois os que não retornam após onze anos, ou enlouquecem ou se matam. Os relatos é que eles são visitados em sonhos pela divindade que rege a cidade, conhecida como o demônio Conorihi, e em seguida passam a sofrer alucinações com os cinco filhos das cincos bruxas da mata, também parte das lendas do local. As pessoas que por algum motivo se mudam para Manguezal, não ficam. A cidade não gosta de forasteiros, os forasteiros temem a cidade.

Existem várias histórias que corroboram para isso. Dizem que a cidade foi amaldiçoada em vários momentos e uma dessas maldições aconteceu no farol que fica a poucos metros da costa, em uma minúscula ilha rochosa. Dizem que no século 19 uma freira chamada Maria Aparecida se envolveu com um padre, cujo nome foi apagado da história, e engravidou. O padre se enforcou no farol e a mulher foi aprisionada no local, cuidada pelas outras freiras da região. Segundo relatos, as freiras torturaram-na a deixando com fome, sede e privação de sono, amarrando-a em uma cama durante toda a gestação, sem que ela pudesse ir ao banheiro, sentada em seus próprios excrementos. O bebê nasceu no farol e por muitos dias podia-se ouvir o choro da criança, que logo se calou. Podia-se ouvir por dias logo após o sumiço do bebê, Segundo relatos, os gritos da freira sobre o seu bebê que fora tomado de seus braços . Após algum tempo a mulher também se calou. Há quem diga que ela se jogou ao mar após ficar aprisionada no local por 11 anos e há quem diga que ela morou a vida toda no farol, e que os seus ossos ainda estão por lá, em um túnel secreto que liga o local ao convento que està localizado na cidade de Manguezal. Segundo uma das versões dessa lenda, o bebê foi levado por cinco antigas freiras que foram expulsas do convento séculos antes e passaram a morar em um chalé no meio do mato, também conhecidas entre os habitantes como as cinco bruxas. Há relatos que a criança foi jogada ao mar e foi absorvida por uma criatura marinha adormecida e enraivada que um dia irá se levantar, criando um tsunami que afundará a cidade.

Tem um velho convento na cidade, que dizem também ser amaldiçoado e hoje está abandonado. O convento fica próximo ao mar e era tarefa das freiras cuidar do farol. Hoje o farol é um patrimônio da cidade e virou um museu com pinturas da época da colonização, imagens de santos, diários do convento, materiais indígenas e até as roupas usadas pelos padres, freiras, nativos e dos povos portugueses que aqui embarcaram. Lá também está exibido os diários das freiras que cuidaram de Maria Aparecida. Segundo os escritos, a mulher havia sido possuída por um mau que não as deixavam se aproximar. Há quem diga que a freira aprisionada também escrevia um diário sobre o seu amor proibido, a provação que teve de passar, o descaso sofrido pelas suas companheiras e o destino do seu filho. Mas o diário nunca foi encontrado nunca foi encontrado.

Nem tudo o que relatarei será encontrado em exposição no farol. Há quem diga que o convento foi corrompido de dentro para fora, que as freiras tinham um pacto com o demônio que vive debaixo da cidade e que os abusos que aconteciam ali alimentavam essa força, tornando-a maligna, contaminando todos os locais da cidade. Muitas das mulheres foram forçadas a se converter contra as suas próprias crenças e costumes, incluindo algumas índias que adoravam a entidade Conorihi, ou algumas mulheres condenadas por bruxaria trazidas de Portugal e que acredita-se que tinham conhecimentos ocultistas e que perceberam o poder que o local tem. Esse encontro dos dois mundos se sincretizou fortalecendo o monstro que vive na cidade, contagiando-o com um poder destruidor motivado pelo ódio daquilo que havia sido feito com os nativos.

O convento passou a fazer parte de um rito da cidade, com desdobramentos imprevisíveis e traumatizantes. Todas as crianças que fazem 11 anos têm de passar o ano novo no local. E nesta noite muitas coisas podem acontecer a elas. Há relatos de crianças que subiram no telhado e se jogaram ao mar, crianças que desapareceram, crianças que ficaram catatônicas. A maioria passa a noite no local e não presencia nada de estranho, porém esse momento é temido por todos na cidade, e sabe-se bem que aqueles que não participam, são acometidos por algo ainda mais horrível. Eu também tive de passar a noite de ano novo no convento abandonado quando completei 11 anos. Eu nada vi ou ouvi. Passei a noite inteira com os olhos fechados, metade do tempo em pânico e a outra metade dormindo pesadamente. Apesar do convento estar abandonado, a cidade procura manter os quartos arrumados e confortáveis para receberem as crianças. Recebemos água e mantimentos dos adultos, mas alguns desses mantimentos amanhecem intocados por causa do pavor que sentimos. Aqui as famílias tem vários filhos. É normal uma mesma família ter mais de 12 filhos, apesar de nem todos sobreviverem e alguns sumirem. Duas meninas gêmeas que entraram comigo desapareceram durante a noite e um dos meninos ficou em estado catatônico. Ninguém sabe ou se atreve a dizer o que aconteceu.

Sobre as crianças que não passam a noite no convento, logo os pais percebem que foi uma escolha errônea e se arrependem amargamente. Afinal, o que poderia ser tão terrível a ponto de fazer os pais largarem os seus filhos em um convento abandonado em uma noite em que crianças podem morrer, desaparecer ou ficarem catatônicas? Quem desafiou essa tradição mantendo os filhos em casa, condenam essa criança um destino trágico e curto. As crianças que não vão até o convento amanhecem mortas. Os pais que passaram por isso relatam que as crianças ficam pálidas, com as pálpebras abertas e sem olhos e a boca escancarada. Elas aparentam estar apavoradas. Mas isso não é o mais sinistro. Todas elas têm a língua arrancada e as entranhas espalhadas pelo quarto. Não adianta tentar passar a noite em claro, a criança sempre aparecerá morta no dia seguinte. Dizem que a brisa do ano novo vem com um sonífero no ar que faz com que todos adormeçam profundamente, exceto aqueles que ficam acordados e testemunham o que quer que a brisa queira que eles vejam. É como se algo estivesse punindo a família que não seguir as regras.

O que é contado de geração para geração é que Maria Aparecida amaldiçoou a cidade e nunca mais foi vista. Após 11 anos de silêncio, ela se aproximou na janela e jurou que a cidade iria perder os seus filhos na noite de renovação, como vingança pelos 11 anos de aprisionamento sem o seu filho. Em seguida, ela desapareceu. Na primeira noite de ano novo após o sumiço de Maria Aparecida, as freiras acolheram todas as crianças no convento e as mantiveram protegidas. Os que não passaram a noite no local, desapareceram ou amanheceram mortas. Nos anos seguintes, mesmo com a proteção das freiras, ao menos uma criança desaparecia no convento. Acredita-se que as freiras e a mulher fizeram um acordo para que ela ficasse com apenas uma criança e por isso ao menos uma criança sempre desaparece. Quando mais de uma criança some, sempre uma menina, acredita-se que outra coisa acontece com ela, mas deixarei para contar sobre isso em outro momento.

Dizem haver um porão no convento que só as freiras sabiam onde fica e que leva a um túnel ligando o convento ao farol. Algumas pessoas acreditam que as crianças que sumiram foram levadas para esse túnel e as suas almas estão presas ali, cuidadas por Maria Aparecida. Alguns ainda dizem que as crianças levadas servem de oferenda para o monstro marinho que mora no fundo do oceano, próximo ao litoral, e que a freira do farol é a guardiã desse monstro. Acredita-se que as crianças em estado catatônico viram a figura fantasmagórica da freira levando os desaparecidos com ela e foram enfeitiçados por testemunharem, mas isso são apenas suposições. Acredita-se ainda que as crianças que testemunharam o que acontece na noite de ano novo sabem onde fica a entrada do túnel, por isso estão presas em seus próprios corpos, incapacitadas de falarem o que viram, pois esse túnel também leva a Conorihi.

Se há alguma passagem secreta no convento que leve até o farol, não saberia dizer. Já me aventurei nesses locais inúmeras vezes e nunca vi nada. E talvez não cabe a mim encontrar esse túnel. Talvez seja só uma lenda interiorana que passou a fazer parte do nosso cotidiano e por isso apenas passamos a história adiante, convencendo-nos a manter as tradições da cidade, com medo do que possa acontecer se as descumprirmos. Posso não ter presenciado nada de estranho naquela noite de ano novo, mas essa não é a única lenda de Manguezal. Pude presenciar algumas coisas bizarras que aconteceram por lá e sei que há algo de estranho rondando a minha pequena cidade costeira e é possível que ao retornar, presencie mais coisas, talvez os meus filhos desapareçam no convento, nas matas, na cachoeira, no mangue, no mar. Por isso ninguém de fora consegue ficar aqui, e muitos forasteiros que por aqui ficam, são logo enterrados na terra fértil da cidade ou ficam perdidos entre as árvores da mata que cerca a cidade e que dizem estar viva.

O convento foi desativado ainda no início do século 20, pois não fazia mais sentido manter aberto um local que foi palco de tanto sofrimento e que foi se esvaziando com o passar do tempo, em especial após o sumiço de Maria Aparecida e o árduo preço que as freiras passaram a pagar, segundo relatos delas, sendo as vezes visitadas pela mulher do farol em sonhos, sofrendo de terrores noturnos, sonambulismo e alucinações, as vezes subindo no telhado do convento e se jogando de lá. Já não haviam mulheres sendo enviadas para o local a fim de estarem mais perto de Deus, afinal de contas como conseguir tal feito sendo assombradas pelas terríveis histórias e vivendo em constante medo? Há uma igreja ao lado do convento que continua funcionando e serve de refúgio para as mentes mais assustadas da cidade. O povo de Manguezal é muito devoto e acreditam que ali seja um santuário para os horrores acometidos pela cidade. Não entendo como o local ajuda, já que todos sofremos o mesmo destino blasfêmico que assombra o local, de uma forma ou de outra. Talvez a fé seja uma forma do povo manter a sua sanidade e diminuir a dor do luto, tão presente em nossas vidas. Respeito a dor de cada um deles e o que fazem para tentar supera-las, afinal de contas é uma dor que compartilhamos e convivemos em nossas rotinas.


Lendas de Manguezal - Parte I - Conorihi

Gostaria de contar a vocês sobre a pequena cidade costeira onde nasci e cresci, no interior do nordeste, chamada de Manguezal, localizada em algum lugar entre o Maranhão e o Pará, bem na divisa dos estados. Coberta por uma mata densa e de difícil acesso, na beira do mar e com um rico manguezal que serve como a principal economia da cidade, é um local muito pequeno, habitado majoritariamente por pescadores do mar e do mangue. Lá somos muito pobres e criamos um sistema de co-dependência, com trocas de pesca e caça, além de hortas familiares e criação de alguns animais como galinhas, vacas e porcos. Não temos muito a oferecer, mas a cidade se sustenta da forma que pode e tem sido assim há muitos anos. Temos orgulho de ter os caranguejos mais suculentos da região e famosos em todo o estado.

O meu nome é Moacir e tenho hoje 21 anos. No momento que escrevo esses relatos estou estudando história na UFMA e sinto necessidade de compartilhar as lendas da minha cidade. Sei que todas as cidadezinhas de interior têm uma coleção de histórias que é capaz de arrepiar a mais cética das almas. Talvez Manguezal não seja diferente. Mas entendo que há muito a ser compartilhado que se difere de tudo que vocês já possam ter escutado, porque é muito particular desse local.

A cidade foi fundada ainda no século 17, com a chegada de caravelas portuguesas e das missões Jesuítas. Antes havia um povo indígena que morava naquela região e que com a chegada dos portugueses, foram escravizados, muitos mortos pelos portugueses no processo e pelas doenças trazidas da Europa. Ainda no século 17 foi fundado um convento da companhia de Jesus, onde mulheres indígenas, prostitutas europeias, mulheres condenadas por bruxaria ou até mesmo meninas que caíam em desgraça em Portugal eram enclausuradas no local. Existem muitas histórias de maus tratos, abandono e até de tortura e abusos naquele lugar. Houveram muitas rebeliões dessas mulheres quase abandonadas a própria sorte sobre o véu religioso que apagava as suas identidades e a destruíam.

Na cidade há um farol que fica em uma pequena ilha rochosa há poucos metros da costa. Hoje em dia o farol virou um pequeno museu com documentações de histórias da cidade, ou ao menos aquelas que podem ser lidas por forasteiros que passam pela cidade por um motivo ou outro. Nos registros do farol há histórias sobre o povo indígena escritas pela visão de um escrivão chamado Antônio Pereira Santos, que veio juntamente com as primeiras caravelas a ancorarem ali. Neste diário de viagem ele relata que os povos indígenas viviam em total harmonia com o local, muito rico e fértil. Os povos idolatravam em especial uma divindade – a qual o escrivão se refere como sendo um demônio – que vivia nas matas, dentro de uma gruta próximo a uma cachoeira. Diziam que essa gruta se estende por todo o subterrâneo da aldeia onde hoje fica a cidade, e a divindade alimentava aquelas terras, os mares e os mangues com abundância e fartura em troca de devoção e pequenos sacrifícios de animais, nunca deixando nada faltar para o povo que ali morava. Os nativos o chamavam de Conorihi, que para eles significava abundância de natureza, e o seu símbolo era um triângulo feito com gravetos. O escrivão também registou que os indígenas amaldiçoaram os portugueses que invadiram as terras, assim como os seus descendentes: Os invasores não poderiam mais sair dali assim como os seus descendentes e Conorihi cobraria o seu preço com sacrifícios. Com o tempo os indígenas e os portugueses passaram a formar um povo só, o que fez com que a maldição abrangesse também os nativos, eventualmente.

A cidade é conhecida entre os seus moradores pelas suas muitas lendas estranhas e peculiares sobre o passado do lugar e que tem resquícios até os dias atuais, fazendo parte da nossa cultura e hábitos. De fato, parece que a terra cobre o seu preço até hoje e morar ali é estar o tempo inteiro lidando com a morte ou coisas ainda piores. Existem destinos tão terríveis que ainda não sabemos ao certo onde fica o limite entre o medo da morte e de uma meia vida de sofrimentos indescritíveis. É como se a cidade se alimentasse dos moradores e passássemos a viver em simbiose com esse local, sem ter como nos livrarmos dos nossos destinos malditos. Estou há dois anos morando em São Luís, mas sei que não importa os laços que criarei aqui, terei de retornar para Manguezal antes de completar onze anos longe de lá. Existe um motivo para isso, que explicarei mais adiante.

As histórias que contarei aqui são antigas e foram passadas de geração para geração pela oralidade, sendo que algumas estão documentadas e exibidas no museu do farol, mas todos nós, moradores de Manguezal, pudemos vivenciá-las em maior ou menor grau. Quem as ler pode não acreditar no que estou descrevendo, eu mesmo duvido de muitas coisas que registrarei aqui, entretanto garanto que algumas das coisas que descreverei eu pude presenciar e por isso tendo a achar que existe muita verdade nessas histórias e prefiro não desafia-las por motivos que vocês logo entenderão. Não importa o que aconteça ou o quão curioso você venha a ficar por causa desses relatos ou queira conhecer as belezas que a cidade possa oferecer, não visite Manguezal. Existem grandes chances de você nunca mais sair de lá ou de retornar enlouquecido pelo que vai presenciar. Conorihi não gosta de forasteiros e só o fato de você estar lendo as histórias da minha cidade seja o suficiente para ele te visitar em sonhos que te enlouquecerão. Leiam por sua conta e risco.

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

What if...

Why do I feel this sour feeling in my brain?

Things don't flow like they used to

And the universe is telling me to let go

But this weird sensation of losing you

Is making me hold to this 'what if' situation

And I feel vulnerable

Like I put myself out there

But it was not enough

And something broke inside of me

I don't see you how I used to

I miss your embrace every second

But I've been stealing it

And it's not mine too keep

I feel like I'm forcing something

That it's not supposed to exist

And this sour feeling hurts me to the core

Because you're taking me for granted

And my whole body wants me to stay

While my brain is telling me to leave

Should I just let you go?

Because I feel like you wanna stay no more

And I deserve more than this

I deserve someone who's here for me

Someone who makes me feel safe

What should I do?

How should I proceed?

Do you wanna talk at all?

How do you feel?

I don't know and I can't live with this uncertainty

It's pulling me down

And down I am trying to get something from you

That I feel is no longer there

And I fear it's gonna hurt me so bad

And numb my heart once more

That I should just go before it's too late

I must be brave enough to listen to this whisper

Telling me that this 'What if' is just a delusion

And just stop trying to engage to something

That is not working in my favor

I should just live my life

How it has always been

And maybe how it's supposed to be...

Without you, you asshole


Priscila de Athaides - 24/11/21

Remoendo

 A minha mente pesa em chumbo

Maquinando em suas lacunas

Respostas que não são preenchidas

Entre a bagunça aqui deixada em brumas


Tudo é caos em meu corpo

Agora suspenso em infundadas mágoas

Emergindo-se dessa enchente

Que me afogou em profundas águas


Eu continuo aqui remoendo

A punição que me foi imputada

Carregando em minhas costas

Essa imensidão em mim sitiada


E as promessas emanadas

Que se condensavam em minhas mãos

Agora se desfazem em gotículas

Que se evaporam nas horas que me perpassam em vão


Mas os meus passos me levam de volta

Para o caminho que eu procurei delinear

Minha ânsia já não me leva embora

Para outro horizonte que parecia se apresentar


E enquanto o mundo continua mexendo

As peças que traçam a minha história

Eu me conformo em meu lamento

Vislumbrando-te precipitadamente ir embora


Priscila de Athaides - 27/11/2021

As suas águas

 Você invadiu a minha vida

Como um mar revolto

Que me afastava da margem

E me levava para esse mundo obscuro

A ser ainda explorado

Cheio de fantasias

E histórias que me deslumbravam.


Eu me senti abraçada por suas ondas

Flutuando em águas calmas

Segura dentro dessa imensidão que me cercava

Mas a minha tempestade interna

Me afundava nesse mar profundo

Me afogando em águas salgadas

De incertezas que me engoliam.


E afundando tudo se escurecia

Eu queria respirar, mas o meu peito se enchia

Dessa água negra que me silenciava

Causando tormenta em minha mente frágil

E eu temia chegar no fundo desse oceano

E me ver abandonada e sozinha.


Então nadei até a margem

Me cobrindo de areia e brisa

E o meu mundo tempestuoso

Soprava o que eu não queria

Mas me clareava a mente em um dia cinza

Me mostrando que eu já não podia

Mergulhar em suas águas

Pois elas a outra pertencia

E isso aos poucos me matava.


Priscila de Athaides - 18/11/2021

The things I love and hate about you

 I love this rare connection between us

Hours and hours of conversations about everything

The trade of thoughts that we have

This urge to see each other

The fact that you're always on my mind

And how you make me admire

This beautiful person that you are

I love how you always say the right things

And how I feel so desired by you

How you can make my body shiver

Without even being by my side

I love the coincidences surrounding us

And how it makes me feel like 

we might have something special


But I hate how fragile this is

And the fear of seeing you slipping away

The fact that you're not mine

And might never really be

I hate how I'm so afraid of losing you

That I feel unsafe to a point

Where all I wanna do is to erase you

And carry on with my life

And I hate all this weird silence you give me sometimes

Between superficial conversations

Because I fill it with this sensation of defeat

In a way that I just wanna close my eyes

And be brave enough to let you go


Priscila de Athaides - 10/11/2021

Esvaziando

 Eu te sinto esvaziando entre as minhas investidas

Minhas palavras parecem ecos em sua mente

Repetindo-se em meus olhos profundos

Buscando me aprofundar neste mar de monotonia.

A minha tela hoje se emudeceu

Eu tentei te buscar por entre as minhas perguntas

E recebi evasão e palavras banais

Aonde você se encontra que já não te vejo nas suas respostas?

Ou eu que te cobri de flores

E as vi perder a vitalidade que outrora te enfeitava?

Talvez eu me projetei e vi em você o mesmo que eu

E agora essa luz já não te cobre mais

Me devolva essas horas investidas

De uma pessoa que tanto se entregava

E sente esse gélido vazio que me puxa para baixo

E me faz tocar os pés no chão

Talvez agora seremos decadência

E eu já não mais sinta toda essa eletricidade

Que percorre a sua pele magnética

E me faz perder o controle

Priscila de Athaides - 10/11/2021

Fading Colors

 I feel like my day has lost its colors

But something was eating me inside

I wanted it all

And all was not for me

I've chosen nothing

And I feel like losing a tiny part of me

Can I have it back again?

All my pores scream at me

Wishing that I could turn back time

But time would punch me in the face

And it would be worse

I feel so lost today

Rethinking every decision I've made

What was destiny supposed to be?

Was it the right decision?

Time will heal my thoughts

And will replace this feeling of desolation

With emptiness

And the colors will fade away

But shall you too

And I'll be here painting my days

With new colors

And so will you

Doing better

Doing right

And this is right for everyone

Although it hurts me inside

Because that's life

And life sucks

Priscila de Athaides - 01/11/2021

Tempestade

 Eu quero ser a tempestade

Que arranca os seus pés do chão

E te vira de cabeça para baixo

Para balançar o seu mundo

E bagunçar todas as suas certezas

Como um terremoto que te faz tremer


Eu quero ser a tormenta

Se formando em sua mente

Os raios formando conexões

Energizando o seu solo fértil

E se cristalizando nas areias de suas memórias


Eu quero ser o tornado

Girando em seus pensamentos

Te fazendo dar voltas e mais voltas

Sobre o mundo ao seu redor

Para que você já não seja mais o mesmo


Quero ser o maremoto de ideias

Que te afunda neste mar obscuro

Cheio de camadas e mistérios

Se aprofundando cada vez mais

Nas águas salgadas das minhas ondas

Que te carregam para outro lugar


Não quero ser paz

A paz não te tira do lugar

A paz não te abala

A paz não te interessa

A paz te faz fincar no chão

E te estagna


Eu quero te fazer flutuar

Neste céu carregado e revolto

Eu quero passar por você

Como uma ventania violenta

E deixar marcas eternas

Que sempre inundarão a sua mente

Em noites de tédio e paz


Priscila de Athaides - 30/10/2021