sexta-feira, 5 de setembro de 2008

O tempo

O tempo passado me olha enraivado,
O tempo futuro penoso,
O tempo presente não vê,
Transtornado.
As horas e as portas
Transpassam trancadas
E olhos desviam-se
Como já não vêem nada.
As cercas e a as janelas
Permanecem cerradas
E a mente carregada de pó
Alenta-se de orvalhos sufocados.
E os olhos alertam-se para o passado
Eu ouço os dentes enfurecidos
E as frases atravessam as mãos
Sugadas pela terra acidentada.
E então os passos ensurdecem
É longa a estrada e o resto se foi
Permaneço no tempo parado
Mergulhando em tempo nenhum.

Priscila de Athaides – 05/09/2008

Azul do Vento

Eu sinto o cheiro do vento
Espalhar-se em minhas narinas,
Como a cor azul
Eu sinto que o vento passa e fica
Deslocando-se em minha pele
No meu pranto nú.
Eu vejo as luzes se acenderem
De tons vermelhos e amarelos
Ascendem-se em teu sorriso esmero
Teus olhos, teus olhos
Amendoados de lágrimas outrora cruas,
E eu te alcanço como um demônio
Ao ver-te partir e me partir entrelaçada
Em tua eterna lembrança
Que esvai-se nas trevas do tempo.
Vejo-o sempre distante
Ainda que os órgãos se encontrem
Em fugaz momento traiçoeiro
Te aguardando primitiva,
Então perco-me no azul do vento.

Priscila de Athaides – 05/09/2008