segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Os seus dedos

Dedos, tirem-me daqui!
Hoje eu quero esse vermelho
Que mancha os seus dentes,
Quero essa escrita exposta,
Os seus dedos pequenos.
Dedos, tirem-me daqui,
Porque aqui é só vontade,
E o concreto dessa poesia
È o incerto, é um talvez,
Um desejo que silencia,
Um desejo que desperta outro eu.
Dedos que eu sonho
Passeando nessa tecla,
Um minuto é eterno,
Um sim é toda vida em segundos,
Palavras, todas as respostas e perguntas.
Os rostos em meus olhos
Tornam-me enraivecida,
Eu quero esse vermelho só para mim,
E então eu espero,
Porque a pele treme,
O peito dói,
E as palavras enlouquecem
Assistindo o dia que se esvai,
Os olhos machucam a garganta,
Talvez mais tarde, talvez amanhã...
Hoje eu quero ouvir os seus dedos!

Priscila de Athaides - 10/11/2008

sábado, 25 de outubro de 2008

Construtivismo

está confuso:

Conhecimento complexo
Origem ortodoxa
Natureza niilista
Saturação segmentada
Transformação trancendental.
Razão ramificada
Unificação universal
Técnicas temáticas
Interesse interativo
Verdade vórtices.
Inconstante imprenscindível
Seleções sacramentadas
Maleáveis mensagens
Observando orientados.

Priscila de Athaides - 25/10/2008

Paper Bag - Tradução by me

Olhava para o céu
Procurando uma estrela
Para rezar, para desejar
Ou qualquer outra coisa.
Eu estava sonhando acordada,
Pensando em um rapaz,
Que eu sabia não ter chances.
Então o pombo da paz
Começou a descer lentamente,
E por um momento acreditei
Que minhas chances aumentavam.
Mas quando se aproximava,
Assim desciam as minhas lágrimas.
Eu achava que era um pássaro,
Mas era apenas um saco de papel

A fome dói,
E eu o quero tanto que me mata,
Pois eu sei que sou uma confusão
Que ele não quer arrumar.
Eu tenho que me concentrar
Já que suas mãos são importantes demais
Para apertar.
A fome dói, mas é necessária,
Quando se custa muito amar

E eu enlouqueci novamente hoje
Procurando me apegar a algo,
Procurando por um pouco de esperança.
Meu amor disse que não poderia ficar,
Não poderia me beijar,
E falhar beijar é falhar em lutar.
Eu disse: “Querido não me sinto bem,
Não me sinto justificada.
Venha aqui e coloque um pouco de amor
Em meu vazio.”
Ele disse: “Está tudo na sua cabeça!”
E eu disse: “Assim como tudo...”
Mas ele não entendeu.
Eu achei que ele era um homem,
Mas ele era apenas um garotinho.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Releitura: Ausência

O desejo de te amar
Vou deixar que acabe em mim
Porque sinto que meu esforço
Será em vão.
Tu te tornaste
A minha própria pessoa
E eu sinto que em meu gesto
Existe o teu gesto
E em minha voz,
A tua voz.
Não te quero ter
Porque tudo aquilo em que acreditei
Seria desperdiçado
Quero que sejas apenas o meu nada.
Deixarei que se vá
Assim encontrarás outros amores
Beijarás outros lábios
E serão outros corpos que irás amar.
Mas aquela que tanto te amou, fui eu
Porque foi com o teu amor que sonhei
Porque beijei outros lábios pensando em ti
E amarei outros corpos como se fossem o teu
E fui eu que em face a solidão
Me deixei desejar isso
Mesmo sabendo que de ti nada teria.
Ainda assim
Eu fui aquela que mais te teve
Porque todo o silêncio
Todas as canções
Todas as lágrimas
Serás tu, em mim

Priscila de Athaides – 10/04/02

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Vinícius de Moraes

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Dissolved Girl

http://br.youtube.com/watch?v=GAiceRuLX1I

Shame, such a shame
I think I kind of lost myself again
Day, yesterday
Really should be leaving but I stay

Say, say my name
I need a little love to ease the pain
I need a little love to ease the pain
It's easy to remember when it came

'Cause it feels like I've been
I've been here before
You are not my savior
But I still don't go

Feels like something
That I've done before
I could fake it
But I still want more

Fade, made to fade
Passion's overrated anyway
Say, say my name
I need a little love to ease the pain
I need a little love to ease the pain
It's easy to remember when it came

'Cause it feels like I've been
I've been here before
You are not my savior
But I still don't go, oh

I feel live something
That I've done before
I could fake it
But I still want more, oh.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Quebrada

Ela comeu morangos, eles te davam arrepios, mas ela os comeu. A tarde brilhava e ela observava tudo da janela. Os pássaros passavam, as nuvens mudavam de forma, as pessoas conversavam sobre coisas cotidianas. E ela apenas observava enquanto o gosto do morango amargava docemente em sua boca.

Tinha todas as horas escorrendo pelas mãos, podia ver o tempo se manifestar nas rugas dos olhos de todos. Um dia ela sabia os seus nomes, naquela tarde não importava. Ela podia correr com os seus olhos o céu e o chão, a tarde parecia amarela, com os raios de sol penetrando o seu quarto e mudando a cor das paredes, era tudo dourado, e seus lábios estavam vermelhos, saborosos.

Então ela pensou consigo mesma: O que torna a vida tão fascinante? O que faz que todos os dias os pássaros cantem passeando em sua janela, as pessoas saírem para falar sempre das mesmas coisas, sempre tão previsíveis? O que faz o sol continuar o seu percurso? O que a faz ver as cores tão limitadas e tão belas?

Os seus braços se agarraram a janela e ela pensou: O que faz voar ser algo tão impossível? Então imaginou o vento tocando toda a extensão do seu corpo, invadindo-a por dentro, preenchendo o vazio de suas entranhas, sentia o sol queimando suavemente a sua pele, todos os seus sentidos aprimorando e então se viu colidindo, espalhando-se pelo chão, a espinha quebrando-se, todo o seu corpo morrendo, servindo de carne para os vermes. E então mais nada...

Abriu os olhos, se viu em pé no seu quarto, sentindo o sol no seu rosto e se perguntou qual era o sentido daquilo tudo. O sentido de viver e se desfazer tão fragilmente. Ela já estava quebrada por dentro.

Não sou eu

Somos carnes
Apimentados
Comemos com prazer
Digerimos com nojo
Somos efêmeros
Sem mente, sem história
Sem nome
Somos sem tempo
Um breve momento
Descansamos em paz
Olhos abertos, olhos fechados
Não há ninguém
Olhamos pra nós
E aquele que chora
E aquele que ri
Não queremos ver
Não queremos sentir
E que descanse em nós a solidão
Pois não há ninguém em nossas camas
Apenas carne
Apenas calor
Às vezes o mesmo rosto
Às vezes tantos
Às vezes nenhum
Sentimos aquilo que nos convêm
E o que é projetado no outro
E não reflete em nós
É exilado para sempre,
O outro que não sou eu.
Até o anoitecer da vida
Apagar o sol em nós

Priscila de Athaides – 06/10/2008

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

O tempo

O tempo passado me olha enraivado,
O tempo futuro penoso,
O tempo presente não vê,
Transtornado.
As horas e as portas
Transpassam trancadas
E olhos desviam-se
Como já não vêem nada.
As cercas e a as janelas
Permanecem cerradas
E a mente carregada de pó
Alenta-se de orvalhos sufocados.
E os olhos alertam-se para o passado
Eu ouço os dentes enfurecidos
E as frases atravessam as mãos
Sugadas pela terra acidentada.
E então os passos ensurdecem
É longa a estrada e o resto se foi
Permaneço no tempo parado
Mergulhando em tempo nenhum.

Priscila de Athaides – 05/09/2008

Azul do Vento

Eu sinto o cheiro do vento
Espalhar-se em minhas narinas,
Como a cor azul
Eu sinto que o vento passa e fica
Deslocando-se em minha pele
No meu pranto nú.
Eu vejo as luzes se acenderem
De tons vermelhos e amarelos
Ascendem-se em teu sorriso esmero
Teus olhos, teus olhos
Amendoados de lágrimas outrora cruas,
E eu te alcanço como um demônio
Ao ver-te partir e me partir entrelaçada
Em tua eterna lembrança
Que esvai-se nas trevas do tempo.
Vejo-o sempre distante
Ainda que os órgãos se encontrem
Em fugaz momento traiçoeiro
Te aguardando primitiva,
Então perco-me no azul do vento.

Priscila de Athaides – 05/09/2008

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Regida a Morfeus

Te visito todas as noites
Como uma succubus desesperada
Transcendendo a carne
De fluídos incandescentes...
Eu te busco por toda a noite
Insaciável e ardente
Transportando o presente
Do seu corpo ausente
Para o meu mundo interno
De fantasias carnais.

Todas as noites Morfeus me busca
Fantasiado em teu rosto
Imitando o seu corpo
Com as mesmas partículas
Que me arrepiam a pele
Transbordando em meu gozo
Os seus lábios que me buscam
Frenéticos e irreais
Queimando a minha pele
De divinas vibrações...

Você me encontra todas as noites
Mergulhada em êxtase
De sua pele vazia
Que me hipnotiza para além da vida
Me fragmentando em infinitas células
Para inundar você
E procurar ser aquela
Que te embriaga a mente
Com desejos sublimes
Para te entorpecer...

Priscila de Athaides Ribeiro – 16/07/2008

terça-feira, 1 de julho de 2008

Come Over Me

Come over me
Come over me
I wanna hear your breath
I wanna hear you scream

You can’t hurt me
You can’t go away
When I touch you
I can feel you’re scared

So come over me
You can’t run away
Let me test your sweat
Falling down your neck

Oh I can make you cry
Make you feel pain
Don’t you think is fine
That is on my way?

So come over me
Come over me
I wanna hear your breath
I wanna make you scream

Priscila de Athaides – 06/06/2008

sexta-feira, 16 de maio de 2008

A noise severe

I feel it slip
Slip away
From my hands
All the away
My heart pounds like none
I feel it slip
Slip away

Why am i?
Why am i here?
So distant from
My old life
My heart feels so sad
What am i doing here?

Doing here

You see i'm riding endlessly
What will become of me?
This higher power knows

You see i'm waiting patiently
And what this means to me?
Nobody ever knows
No...
You see in all the warmth i feel
Is this the end of me?
Only i should know
Mine

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Querido

Querido,

Não quero abrir os teus olhos

Pois os meus estão pelo avesso.

Eu te beijo

Embriagada de pensamentos tortos,

Te entrego verdades-delírio,

Para o despertar me roubar as lembranças

E não me denunciar,

Já que me prometi não prometer mais amor

E todos têm a minha promessa!

Não quero mais dizer adeus...


Querido,

Eu me embaraço nos laços do tempo

Buscando estabilidade.

Voar pede repouso

Quando a alma pesa

E o solo liquifica-se

Para o meu corpo pesado

De sonhos perdidos

No tempo em que os nervos gritavam...


Querido,

Eu te vejo soprar minhas vontades

Em meus sonhos-silêncio,

Eu corro você em meus poros

Alternada em orgulho e desejo.

Perder assumiu a culpa

De todas as palavras precipitadas,

E hoje está em meu inconsciente

Um natal de promessas frustradas.


E querido,

Eu não te culpo,

Não mais do que eu.

Eu dispenso todas as nódoas

Que não foram nossas,

Que foram venenos,

Porque agora eu só tenho o tempo,

Ilusório relógio que se repete

No mar de ressaca

Dos momentos distorcidos.

E não espero que o tempo retorne

Porque o passado já foi perdido...

Priscila de Athaides – 21/04/2008

sábado, 12 de abril de 2008

Triste

Eu olho para as minhas fotografias
E vejo meu olhar sempre distante
Como a minha alma distorcida
Que contrasta com o meu sorriso
Congelado no tempo
E é tudo o que conseguem ver
Ninguém vê a loucura dos meus passos
Eu caminho flutuando entre os espaços
Meu pensamento é a determinante morte
O sentimento de não existência
Que me sufoca, porque é tudo o que sei
O mundo é um lugar pequeno e mudo
É claustrofóbico viver
E sentir a vida correr entre meus pés
Enquanto estou suspendida
É como se o ar dopasse as idéias
E os movimentos fossem sempre lentos
Trancando a fala
E distribuir palavras pesasse toneladas
Me zonzeando por dentro.
E então eu vejo em meus olhos
A mudança com as décadas
O olhar distraído com o tempo
Que me diminui infantilmente
Porque a alma fragmentou-se
E a tristeza não me aquieta.
Priscila de Athaides – 12/04/2008

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Pó temporal


Pólos atômicos de atração marítima

Anos solares, cientificação material.

Vida barrosa,

Sopro silencioso

Primitivismo alegórico.

Mente frutífera

Iluminação rastejante

Visionário mundo ocular

Centro neurótico

Fertilização cerebral

Condenação sofística,

Retórica subliminar.

Tempo, pó espalhado,

Microscópico permanente

Chronos silenciado

Ocultado

Sujeira blasfêmica

Prisão bibliotecal vaticana

Arquivamento Constantino

Loucura espiritual.

Degeneração da lógica:

‘O mundo é uma festa bestial

De jalecos laboratoriais’

- Sacro indelével.

Tradições falídas,

De ocidentalização ilusória,

Tempo linear

De inverdades históricas.

Priscila de Athaides – 11/08/2008

terça-feira, 8 de abril de 2008

Suspiria


O coração bombeia

O último respiro sofrido,

O pesado respirar mortífero

Da mãe dos suspiros.

A dança da morta viva,

A bailarina despida

De pés sangrentos,

Movimentos entorpecidos,

Sangue azul avermelhado

Vermelho sangue

Guache aguado.

Escondido na íris azulada,

Labirintos deformados

Conhecimentos cautelosos,

Bruxaria condenada,

Da rainha negra,

A bruxa, putrificada

Alma vazia degenerada.

Afundando em um mar metálico

Nos fios cortantes de prisão carnal,

Respira pesadamente

Pelo som da lâmina manchada,

Vermelho sangue secular,

Liberdade desesperada,

Liberdade não alcançada,

Partindo os vitrais

De passados exagerados

Imaginário camuflado

De magia maléfica,

As três mães,

As três deusas,

As três bruxas,

A lágrima,

O suspiro,

As trevas,

A mãe suspiria nascida

No imaginário visionário distorcido,

A poética da morte por mãos

Que etérea o mundo sobrenatural.

Quem tem medo de Helena Markus?

Priscila de Athaides – 08/04/2008

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Às vezes penso...

Às vezes penso que morri

E o mundo é a minha criação mental

Fingindo que o sangue ainda corre

Coagulando o meu coração vital.


Às vezes penso que sou vigiada

Nesse gélido mundo distorcido

Que a negligência é fingimento

Para tornar o crescimento sofrido.


Às vezes penso que sou mecanizada

Movida a encaixes parafusais

O mundo me enxerga robótica

Com idéias massificas numerais.


Às vezes penso que morri

Sequei a paixão do despertar

Vejo as horas ilusórias

Negar-me a vontade de sonhar.

Priscila de Athaídes – 02/04/2008

Me digas

Me digas, que dúvidas tens?

Te digo: - Respostas não tenho.

O mundo no qual caminhamos

É uma rocha flutuante

Em sua instabilidade tectônica

Que dizem ferver por dentro

Mas a encontramos oca

De livres pensamentos.


Me digas, o que sonhas?

Te digo: - Estão longe daqui...

São sonhos em preto e branco

Uma selvageria material,

Estamos apenas caminhando

Em torno dos que ditam as leis

Que são metamorfoses

E uniformizantes mentais.


Me digas, o que temes?

Te digo: - Tememos a morte carnal!

O obscuro sentimento

De irressurreição espiritual

Distorcido no limitado conhecimento

De formas adiposas, epidérmicas.

Eu temo a minha fragmentação,

Dependência do meu mundo irreal.


Me digas as suas respostas,

Te digo: dúvidas eu tenho...

Essas são eternas,

Enquanto o eterno é alcançável.

Sinto muito te dizer

Que tudo isso é inútil

Apenas a necessidade do saber

Até tornarmo-nos mudos.

Priscila de Athaides – 02/04/2008

terça-feira, 1 de abril de 2008

O mártir das bestas

Um coro de crianças choram

Num paralelismo surreal,

É a grande besta,

O mártir da inocência auroreal.

Aproxima-se dos sentidos

Notícias dos mundos distantes,

Interioridade filosofal,

Caminha nos sonhos proféticos

Com sabedorias distorcidas

De um pré-formato embrionário,

O coro das crianças perdidas,

Que enevoa-se na implosão da vida

E se esvai no subconsciente massal.

É as inverdades perdidas,

Os não-registros coloquiais,

É o choro sofrido

De carregar o grande mundo perdido,

A clamação da necessidade crençal

Tomadas por retóricas vazias,

Sentimento de conforto,

Temor por castigo espiritual.

O nada torna-se real

Quando une-se ao senso comum,

É o sentimento do mundo,

Uma máquina que gira

Na nossa mente carnal.

E na intensa busca

De rupturas imaginárias

A grande besta clama o seu canto

De mórbidas visões corrosivas

Da nossa dita sabedoria

De declinação crescente

No inconsciente memorial.

E eis que escutamos os coros

Das crianças marginais.

Priscila de Athaides – 01/04/2008

segunda-feira, 31 de março de 2008

Aquarius


O universo move-se constante

Fio invisível de gravidade determinante

Crescimento expansivo

Einsteinismo

Longe do livre arbítrio humano.

As estrelas brilham além

Do ego carnal e do véu divino,

Em um mundo pré-diluviano

Alinha-se a sabedoria astral,

O astro brilhante galatical,

Tempestuando radiações destrutivas.

Das submersas sabedorias ocultas,

Flutuantes no arco da grande vida,

Distancia-se o olhar civil capitalista

Que enxerga pedras monumentais

Desacreditando na fortuna fatídica

Prevista na combustão da luz ancestral,

Conhecimentos que transcendem as escritas

Dos desérticos nômades pós-Noésistas

Fora do médio passado perdido

De re-começos destrutivos,

A sabedoria monoteísta unilateral.

E fecha-se o ciclo Chronos

Eterno retorno, infinito fatal,

É chegada a era das dádivas etéreas

A era da revelação mental.

Priscila de Athaides – 31/03/2008

sábado, 29 de março de 2008

Intertextualidade


Lenore - Edgar Allan Poe

Ah, broken is the golden bowl! the spirit flown forever!
Let the bell toll! -a saintly soul floats on the Stygian river -
And, Guy De Vere, hast thou no tear? -weep now or never more!
See! on yon drear and rigid bier low lies thy love, Lenore!
Come! let the burial rite be read -the funeral song be sung! -
An anthem for the queenliest dead that ever died so young -
A dirge for her, the doubly dead in that she died so young.

"Wretches! ye loved her for her wealth and hated her for her pride,
And when she fell in feeble health, ye blessed her -that she died!
How shall the ritual, then, be read? -the requiem how be sung
By you -by yours, the evil eye, -by yours, the slanderous tongue
That did to death the innocence that died, and died so young?"

Peccavimus; but rave not thus! and let a Sabbath song
Go up to God so solemnly the dead may feel no wrong!
The sweet Lenore hath "gone before," with Hope, that flew beside,
Leaving thee wild for the dear child that should have been thy bride -
For her, the fair and debonnaire, that now so lowly lies,
The life upon her yellow hair but not within her eyes -
The life still there, upon her hair -the death upon her eyes.

Avaunt! tonight my heart is light. No dirge will I upraise,
But waft the angel on her flight with a paean of old days!
Let no bell toll! -lest her sweet soul, amid its hallowed mirth,
Should catch the note, as it doth float up from the damned Earth.
To friends above, from fiends below, the indignant ghost is riven -
From Hell unto a high estate far up within the Heaven -
From grief and groan to a golden throne beside the King of Heaven."

My lost lenore - Tristania


Dancing heart I mourn

My lost
desire

Dancing heart I mourn

Rape the soul forever
 
For thy promise bewailed
by her raveneyes
by her beauty and a scarlet sunrise
May thy river bury her silvertears
A fallen angel... enshrined in moonlit seas
 
Leaving vitality
so serene breeds my darkness
Entreating winterwinds
though I leave... I embrace thee
 
Winternight
Conceal thy precious angellore
I secrete my soul
Under thy wings of sorrow
Dark I embrace thy eyes
Wander lost on life's narrow path
I reveal my heart
To this beauty dressed in dark
 
When my shadows devotetly cast

My moon will rise with lost
 
Dancing heart I mourn

My lost
desire

Dancing heart I mourn

Rape the soul forever
 
Grieving raveneyes
Falls asleep with the sunrise
Delightful midsummer breeze
Though I leave... I await thee 
 
Winternight
Conceal thy precious angellore
 
Grant me thy last midsummer breeze
May thou ascend from endless sleep
... my desire
Dance me above thy moonli seas
Glance yearningly into the deep
a cold and weary night
 
Winternight
Descending me like flakes of snow
I embrace the cold
For a life that morrows
Dark I embrace thy heart
Wanderer lost beyond veils of dawn
I conceal thy loss
Enthralled in life yet still I mourn
My lost Lenore...

sexta-feira, 28 de março de 2008

Atrofiado

A cegueira dos lábios atrofiados
Expõe a rasura da visão
Um mundo reto,
De circulos incompletos,
Um infinito entediante.
Sangue que corre
Como ventos monótonos,
A apatia de ir além
Voando por terras baixas,
O magnetismo da mente
Atraído pelo chão.
Rios concretos que trazem quedas,
Águas rasas e transparentes,
É tudo uma corrente
De realidade não sensorial.
Viver é um despertar adormecido
O meio que é apenas um meio
Quando os olhos se fecham
E a escuridão é total.

Priscila de Athaídes - 28/03/08

quarta-feira, 26 de março de 2008

Cordeiros


"Agnus Dei"


Os joelhos partem-se ao caminhar

É pesado continuar

Guiar-se pela brisa,

O sopro divino de auroras perdidas,

Torna-se difícil de sustentar.

E os cordeiros perdidos

Caem de precipícios

Enquanto as respostas de outrora,

Aquelas que já não viviam mais,

Parecem retornar

Como a fortuna maldita

De respostas que se completam

Sobre a luz do luar.

Os caminhos retornam

Como o infinito círculo,

O passado desfigura o presente,

Enquanto os olhares ocos

Da fé irracional

Enxerga o mundo por sombras

E partem-se fragmentados

Por conhecimentos alterados

De passado oceânico

E sabedoria vulgar.

Priscila de Athaides – 26/04/2008

sexta-feira, 14 de março de 2008

Ruas Laranjas

Caminho pelas ruas laranjas
O respirar é sólido que desola
As pernas deslizam chumbosas
Qualquer calor que me encoste
O cheiro de pele quente
Me enoja, palpita
Os olhares parecem meus
Todos contra mim
E as mãos inchadas
Tocam coisas efêmeras
Tudo parece afastar-se
Da minha visão turva
Contornados por uma áurea
Ausente de todas as cores
Como pisar descalço
Em um asfalto fervente e pedregoso
Que chamamos caminho.

14/03/2008

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Trovejava

Trovejava
Ecoando aos tempos
Antes penumbrava
Hoje temporal
Pálido à face das memórias
Queria sorrir, mas chovia
E as pesadas águas causavam ondas
De um Netuno enfurecido
Queria gritar, mas silêncio...
A noite não rompia em dia
Trovejava e o tempo permanecia
Obscuro inconstante
O ar das cores ausentou-se
Era tudo a presença do fechar dos olhos
Por dentro trovejava, por fora escondia-se
E nem uma estrela brilhava...

Priscila de Athaides - 14/02/2008