sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Sofá de couro bege

As multidões permanecem no caos

Barulhentas e passageiras

Por entre os asfaltos quentes e permanentes

Enquanto o horizonte muda a cada instante

Até se tornar invisível e frio

Quando a escuridão toma conta

E o caos permanece

Sempre do outro lado

Da janela estática e luminosa

Que transpassa cada átomo

Roubando os momentos vazios

Silenciando as palavras hipócritas

De resgate e humilhação

E dos sonhos que permeiam a todos

Sempre os mesmos.


E os que estão deste lado

Permanecem sentados, em letargia

Que parece congelar os momentos

Enquanto o vento corre entre as estações

E tudo parece igual

Tudo é igual

Menos o tempo

Que leva o próprio tempo

Até o momento em que o caos toma conta

E o asfalto parece próximo ao rosto

Que frio, beija a face

Quando caem os que deixaram a vida virar pó

Sentados naquele momento estático

Esperando a vida correr em seus corpos

Sem notar a própria vida.

Priscila de Athaides – 30/11/2007

sábado, 24 de novembro de 2007

O jardim da senhora das flores

Dos ares venezianos

Terras gaúchas foram invadidas

Pelo cheiro das flores italianas

E então levadas pelo vento

Para a princesa do sertão

À árida terra nordestina...

Do solo maternal

A nova geração dos ‘Joaõs bons’ é invadida

Invade os sonhos da criança esquecida

Nas lembranças da mulher adormecida

Que não se esquece e não mais se apega

A infância perdida...

E as flores dançam

O ritual da vida

O jardim vive

Nas ondas da memória...

A senhora das flores surpreendida

Pelo trágico acidente fatal

Que foi-lhe arrancada a metade

Para o incerto mundo etéreo

Parte para a terra arborizada

A úmida região amazônica

Abandonando o seu jardim, esquecido

Na gema dos sonhos inesquecíveis...


Priscila de Athaides - 23/11/2007

Celulose

Palavras são sussurradas ao vento

Códigos indecifráveis

Segredos incontáveis

Incompreensivelmente simples

Aos que caminham sem rumo

Pelos já traçados passos vazios...

Palavras que cantam as suas melodias

Acordando o mundo que alvorece

Jorrando em folhas brancas

Sorrisos e lágrimas

Esperanças e desilusões

Rimas ricas, versos pobres,

De amor e de dor

De pensamentos tolos

Nostálgicos

De reflexões

Desenhando o mundo

Em linhas invisíveis

Vivas, nesse mundo que as desprezam,

Esse mundo surdo, esse mundo cego,

Que raia dia após dia

Num ciclo infinito

Sem notar a sua existência

Como as árvores que permanecem...

Sem fim...


Priscila de Athaides - 11/10/2007

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Réquiem dos mortos-vivos


(Foto do filme 'Zombie - Flesh Eaters' do diretor italiano Lucio Fulci, 1979.)


Dançam os espectros prateados

Nas profundas catacumbas mudas

Cantam para a sagrada lua avermelhada

Trenodia para os que jazem

Em fria terra sagrada

Transformados em pó esquecidos

Enquanto madruga aos olhos dos que respiram

O venenoso oxigênio necessário.


E aqueles que descansam

Ao som do mórbido réquiem

Das sombrias almas penadas

Despertam com os seus brancos olhos Romerianos

Ao sino preciso das 3:00 matinal

Entre os túmulos maculados

Pela essência divina e cruel

Dos demônios enraivecidos.


E cavam a podre terra

Com as suas mãos putrificadas

Guiadas pela terrível fome eterna

De tripas e vísceras

De músculos e ossos

De sangue e de carne macia

Dos que ainda permanecem em vida

Nessa vazia rotina estática.


Caminham a passos lentos

Forçando as suas juntas enrijecidas

Por longas horas entorpecidas

Pelo amargo veneno da morte

Com as suas caras inexpressíveis

De uma maldição Lugosiana

Na efervescente noite vermelha

De puro horror apocalíptico.


Priscila de Athaides – 12/11/2007




sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Jóias Perdidas

Adeus folhas que vão
Pelos ventos do outono
Hoje o dia penumbra
Mergulha nos lábios salgados
Caminha nos olhos fechados
Como temporais de areias
Cobrem as jóias do tempo
As eternas jóias perdidas.
Mas hoje os olhos abrem
Revê a face do passado
Que mastiga o órgão pulsante
Sacia-se do sangue latente
E bombeia a vida daquele que não sentia
E hoje sente
Lembranças que trazem saudade...
Adeus folhas que vão
E que retornam com o tempo
Para serem espalhadas nas horas instáveis
E pesar na memória como as jóias perdidas...

Priscila de Athaides - 09/11/2007