segunda-feira, 21 de abril de 2008

Querido

Querido,

Não quero abrir os teus olhos

Pois os meus estão pelo avesso.

Eu te beijo

Embriagada de pensamentos tortos,

Te entrego verdades-delírio,

Para o despertar me roubar as lembranças

E não me denunciar,

Já que me prometi não prometer mais amor

E todos têm a minha promessa!

Não quero mais dizer adeus...


Querido,

Eu me embaraço nos laços do tempo

Buscando estabilidade.

Voar pede repouso

Quando a alma pesa

E o solo liquifica-se

Para o meu corpo pesado

De sonhos perdidos

No tempo em que os nervos gritavam...


Querido,

Eu te vejo soprar minhas vontades

Em meus sonhos-silêncio,

Eu corro você em meus poros

Alternada em orgulho e desejo.

Perder assumiu a culpa

De todas as palavras precipitadas,

E hoje está em meu inconsciente

Um natal de promessas frustradas.


E querido,

Eu não te culpo,

Não mais do que eu.

Eu dispenso todas as nódoas

Que não foram nossas,

Que foram venenos,

Porque agora eu só tenho o tempo,

Ilusório relógio que se repete

No mar de ressaca

Dos momentos distorcidos.

E não espero que o tempo retorne

Porque o passado já foi perdido...

Priscila de Athaides – 21/04/2008

sábado, 12 de abril de 2008

Triste

Eu olho para as minhas fotografias
E vejo meu olhar sempre distante
Como a minha alma distorcida
Que contrasta com o meu sorriso
Congelado no tempo
E é tudo o que conseguem ver
Ninguém vê a loucura dos meus passos
Eu caminho flutuando entre os espaços
Meu pensamento é a determinante morte
O sentimento de não existência
Que me sufoca, porque é tudo o que sei
O mundo é um lugar pequeno e mudo
É claustrofóbico viver
E sentir a vida correr entre meus pés
Enquanto estou suspendida
É como se o ar dopasse as idéias
E os movimentos fossem sempre lentos
Trancando a fala
E distribuir palavras pesasse toneladas
Me zonzeando por dentro.
E então eu vejo em meus olhos
A mudança com as décadas
O olhar distraído com o tempo
Que me diminui infantilmente
Porque a alma fragmentou-se
E a tristeza não me aquieta.
Priscila de Athaides – 12/04/2008

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Pó temporal


Pólos atômicos de atração marítima

Anos solares, cientificação material.

Vida barrosa,

Sopro silencioso

Primitivismo alegórico.

Mente frutífera

Iluminação rastejante

Visionário mundo ocular

Centro neurótico

Fertilização cerebral

Condenação sofística,

Retórica subliminar.

Tempo, pó espalhado,

Microscópico permanente

Chronos silenciado

Ocultado

Sujeira blasfêmica

Prisão bibliotecal vaticana

Arquivamento Constantino

Loucura espiritual.

Degeneração da lógica:

‘O mundo é uma festa bestial

De jalecos laboratoriais’

- Sacro indelével.

Tradições falídas,

De ocidentalização ilusória,

Tempo linear

De inverdades históricas.

Priscila de Athaides – 11/08/2008

terça-feira, 8 de abril de 2008

Suspiria


O coração bombeia

O último respiro sofrido,

O pesado respirar mortífero

Da mãe dos suspiros.

A dança da morta viva,

A bailarina despida

De pés sangrentos,

Movimentos entorpecidos,

Sangue azul avermelhado

Vermelho sangue

Guache aguado.

Escondido na íris azulada,

Labirintos deformados

Conhecimentos cautelosos,

Bruxaria condenada,

Da rainha negra,

A bruxa, putrificada

Alma vazia degenerada.

Afundando em um mar metálico

Nos fios cortantes de prisão carnal,

Respira pesadamente

Pelo som da lâmina manchada,

Vermelho sangue secular,

Liberdade desesperada,

Liberdade não alcançada,

Partindo os vitrais

De passados exagerados

Imaginário camuflado

De magia maléfica,

As três mães,

As três deusas,

As três bruxas,

A lágrima,

O suspiro,

As trevas,

A mãe suspiria nascida

No imaginário visionário distorcido,

A poética da morte por mãos

Que etérea o mundo sobrenatural.

Quem tem medo de Helena Markus?

Priscila de Athaides – 08/04/2008

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Às vezes penso...

Às vezes penso que morri

E o mundo é a minha criação mental

Fingindo que o sangue ainda corre

Coagulando o meu coração vital.


Às vezes penso que sou vigiada

Nesse gélido mundo distorcido

Que a negligência é fingimento

Para tornar o crescimento sofrido.


Às vezes penso que sou mecanizada

Movida a encaixes parafusais

O mundo me enxerga robótica

Com idéias massificas numerais.


Às vezes penso que morri

Sequei a paixão do despertar

Vejo as horas ilusórias

Negar-me a vontade de sonhar.

Priscila de Athaídes – 02/04/2008

Me digas

Me digas, que dúvidas tens?

Te digo: - Respostas não tenho.

O mundo no qual caminhamos

É uma rocha flutuante

Em sua instabilidade tectônica

Que dizem ferver por dentro

Mas a encontramos oca

De livres pensamentos.


Me digas, o que sonhas?

Te digo: - Estão longe daqui...

São sonhos em preto e branco

Uma selvageria material,

Estamos apenas caminhando

Em torno dos que ditam as leis

Que são metamorfoses

E uniformizantes mentais.


Me digas, o que temes?

Te digo: - Tememos a morte carnal!

O obscuro sentimento

De irressurreição espiritual

Distorcido no limitado conhecimento

De formas adiposas, epidérmicas.

Eu temo a minha fragmentação,

Dependência do meu mundo irreal.


Me digas as suas respostas,

Te digo: dúvidas eu tenho...

Essas são eternas,

Enquanto o eterno é alcançável.

Sinto muito te dizer

Que tudo isso é inútil

Apenas a necessidade do saber

Até tornarmo-nos mudos.

Priscila de Athaides – 02/04/2008

terça-feira, 1 de abril de 2008

O mártir das bestas

Um coro de crianças choram

Num paralelismo surreal,

É a grande besta,

O mártir da inocência auroreal.

Aproxima-se dos sentidos

Notícias dos mundos distantes,

Interioridade filosofal,

Caminha nos sonhos proféticos

Com sabedorias distorcidas

De um pré-formato embrionário,

O coro das crianças perdidas,

Que enevoa-se na implosão da vida

E se esvai no subconsciente massal.

É as inverdades perdidas,

Os não-registros coloquiais,

É o choro sofrido

De carregar o grande mundo perdido,

A clamação da necessidade crençal

Tomadas por retóricas vazias,

Sentimento de conforto,

Temor por castigo espiritual.

O nada torna-se real

Quando une-se ao senso comum,

É o sentimento do mundo,

Uma máquina que gira

Na nossa mente carnal.

E na intensa busca

De rupturas imaginárias

A grande besta clama o seu canto

De mórbidas visões corrosivas

Da nossa dita sabedoria

De declinação crescente

No inconsciente memorial.

E eis que escutamos os coros

Das crianças marginais.

Priscila de Athaides – 01/04/2008