quarta-feira, 22 de março de 2017

Garoto, Interrompido



Eu sei do seu desespero,
Do quanto a sua decisão te pesa,
De como o seu caminho tem te torturado.
Os seus silêncios são maquinados,
Os seus passos carregados
E o seu destino desviado.

Eu continuo seguindo
Sempre certa de tudo o que fiz.
Minhas escolhas pensadas,
Meus desejos conquistados,
Meu destino cerrado em minhas mãos.

Eu sei dos tormentos da sua mente inquieta,
Da maquiagem na sua felicidade fingida,
Do quão destruidor tem sido as consequências
Daquilo que todos disfarçam de bênção.

Eu te encaro com escárnio,
A sua danação me diverte.
Talvez a única coisa que me pese
É me sentir vingada pelo que o destino revelou
Àquele que tanto me destruiu por um momento
Ter por todo o tempo
Uma vida que se dilacerou.

Priscila de Athaides - 22/03/2017

À ti, que não estás mais



Nunca fostes o meu favorito
Por vezes te fiz inimigo
A nossa fúria nos opondo,
Silenciosos nos contemplando

Sempre quis estar à sua altura
Seguindo a minha vida segura
Fostes sempre o meu norte
Meu amuleto de sorte

O teu sorriso orgulho me preenchia
De certezas no caminho que se seguia
Agora me sinto parada no tempo
Sentindo falta da segurança do seu alento

Mas ainda te tenho em sonho
Seguindo em vida, risonho
E te sinto ainda ao meu lado
Com um sentimento menos amargurado

Levo-te sempre no pensamento
Confortando-me nesse vazio turbulento
E se eu pudesse voltar atrás
Desfaria os nossos temporais

Priscila de Athaides – 22/03/2017

quarta-feira, 15 de março de 2017

Escuridão

Oh escuridão! Tu chegas sem piedade
Me tomas, me amargas, me castigas
Me tens louca, me tens arisca
Escuridão, maldita inimiga

Oh escuridão! Tu chegas silenciosa
Me tomas, me mata por dentro
Me tens sem lamento, sem dó
Não há neste mundo castigo pior

Oh escuridão! Vá embora
Não te aguento mais
Tu me congelas a alma
Tu me machucas demais

Oh escuridão! Me esqueça
Há outros que te desejam
Eu só quero paz
Que paz tu me trazes?

Oh escuridão! É isso que sou
Sou tu por dentro
Teu olhar me devora
Por favor, vá embora... 


Priscila de Athaides – 26/09/02

Nada

Do que me adianta todo o meu talento
Todo o sentimento
Todas as palavras
Ao longo de uma folha
Se aqui dentro
Procuro um fio de esperança
Que se faz distânte do alcance
Longe do olhar...
Eu sou um coração partido
Uma alma perdida
Um nada no meio de tudo isso
E ao meu redor há todos esses olhos
Que me olham mas não me vêem
Todas as palavras
Que são ditas, mas vazias
Todas essas portas
Que se fecham em meu caminho
E eu no meio desse caos
Sozinha...
Eu sou a cara que se fecha
As palavras que se calam
Os pensamentos esquecidos
Eu sou isso... NADA

Priscila de Athaides - 20/11/02

Ser eu

Vontade de ser aquilo que eu sou
Acima das palavras dos homens
Ser o que diz meu coração
Os meus sonhos
O meu corpo
As minhas regras.

Vontade de gritar
Vontade de gozar
Vontade de sorrir e chorar
Sem ter hora nem lugar
Vontade de dizer não
De dizer “eu vou”
De viver de ilusão
Acompanhada ou solidão.

Vontade de escolher
Quem será ‘você’
O que eu serei
O que falarei
Vontade de não aceitar
Vontade de não compreender...
De ser apenas eu
Só eu
Só...
Priscila de Athaides – 29/08/02

Voe

Voe
Mais alto do que te foi permitido voar
Não te prendas ao chão
Quando tens asas tão longas para voar
Voe
O medo de te entregar ao céu
É o medo que tens de viver
Se a vida te permite voos
Não temas abrir as asas
Para não deixares a vida passar
Por isso, voe
Voando tu conhecerás coisas
Que não acreditavas ser capaz
Como a ti mesmo...
Priscila de Athaides – 20/07/02

Essa dor

Eu me sinto tomada por esse sentimento
Que arde e dói e devora
Tão ambicioso e traiçoeiro
Que te convida, te toma e te ignora

Eu me sinto tomada por essa dor
Que te olha com desprezo e dó
Não tem ódio nem amor
Mas tem prazer em te ver só

Eu me sinto tomada por essa agonia
E eu não sei dizer
Quando se foi a minha alegria
Quando isso decidiu me ter

Eu me sinto tomada e é isso
Tudo o que eu quero dizer
É como um terrível feitiço
E não há nada que eu possa entender

Eu sinto, e não fui eu que escolhi
Sentir tanto esse tormento
Se ao menos estivesses aqui
Entenderias o meu sofrimento

E é como um forte veneno
Tão perigoso e tentador
São teus olhos, tão serenos
Capazes dessa terrível dor

E é essa a dor que me toma
E eu só quero entender
Porque teu olhar me chama
Se eu não posso te ter?
Priscila de Athaides – 07/10/02

O que há em mim

Aquilo que há em mim
Ninguém conseguirá desvendar
Nem mesmo os meus olhos
Serão capazes de te contar

Aquilo que eu sou
Está mantido dentro de mim
Não há ninguém nesse mundo
Que saiba o que há aqui

O que eu sou
Não é o que você pensa
Sou muito mais do que palavras
Do que minha solidão, minha carência

O que há em mim
Nem mesmo o tempo irá dizer
Nem seus olhos, seus sorrisos
Nem nada que há em você 


Priscila de Athaides - 17/10/02

A noite

Não quero que você saia dos meus olhos
Assim, como o tempo que corre em nossas mãos
Inventando memórias.
A maré está aumentando
Mas a noite está indo embora,
E hoje a noite foi generosa
Dissipando-se em meio às nuvens.

Hoje eu quero que o mundo mude
E que a noite se vá de mim
Quero que as estrelas permaneçam no mar
Assim como os seus olhos 

Permanecem nos meus.
Eu quero que o mundo pare
Quando o sol aparecer.

Priscila de Athaides – 27/04/03

Longe de casa

Já amanheceu
E eu...
Tão longe de casa
Tão perto de nada
Tão fora de mim...
Eu sei o lugar ao qual pertenço
Mas não quero mais voltar
Meu coração é tão pequeno
Diante às coisas que me esperam
A minha alma se divide
Entre esse momento
E as coisas que ficaram para trás
Não quero estar longe do mundo que criei
E sim do mundo que me criou
Quero ser eu ao meu lado
Distante daquela que me fizeram ser!

Quando eu despertar

Quero abrir os meus olhos
E sentir que tenho você ao meu lado
Quando tudo parecer vazio e perdido...
Quero acordar e descobrir que tudo passou
E que a solidão já não se encontra mais presente em mim!
Não há um só segundo que eu não pense
Como é injusto cada segundo
em que respiramos longe um do outro
Onde está você agora
Enquanto eu estou aqui?
Eu me sinto abraçada pelo negro vazio noturno
Que me desperta nesses momentos em que nada resta
Além do frio e do desespero
Quanto tempo ainda falta
Para encarar o medo e a solidão?
Eu não quero mais fechar os olhos
E ter apenas os meus sonhos para estar com você
Não quero me ver tão magoada longe dos seus olhos
Quero apenas sorrir e ter a confiança de que você é meu
Quando eu despertar...

Priscila de Athaides – 06/10/04

Esquecido

Nada restou daquela que eu fui
Enquanto me mantenho
Em algum canto de mim perdida...
Em meus olhos sobrou apenas esse vazio imenso
Como se meus sonhos fossem pesadelos
Que me tomam o tempo
Enquanto eu caio
Na imensidão que me acoberta...
Quando eu acordar espero que essa escuridão
Se vá de vez dos meus pensamentos
Porque essa alma fria e negra
Sente que não agüenta mais sofrer
Dessa tristeza que me tomou o coração.
Nada restou dos meus sonhos de criança
Nem mesmo o sorriso
Nem mesmo as lágrimas
Nem mesmo a esperança que eu tinha
Há muito tempo já esquecida
Nas profundezas desse ser gelado
Nos olhos que já não enxergam mais nada
Além desse mundo negro e tempestuoso
E se há algo que ainda me sustenta
Por favor me deixe partir
Para onde eu não conheça dor
Onde eu poderei sorrir
E não derramar nenhuma lágrima
Nesse rosto que conhece bem a solidão
E não quer mais prová-la...

Priscila de Athaides – 07/06/04

Mais um dia

Hoje é mais um daqueles dias
Em que somos novamente zumbis
Procurando simular aos tolos
Tão repletos de sarcasmos e mentiras
Adiamos por mais um dia quem somos
E descobrimos que pouco somos ao final do dia...
Se a tristeza tivesse endereço
Seria os nossos sorrisos
Que escondem apenas mentiras
Carregados como verdades
E que às vezes nos choca com a realidade
Apática e humilhante do dia-a-dia...
Se os tolos olhassem através dos nossos olhos
Veriam que eles brilham como falsos diamantes
Tão belos e sem valor
Porque tudo o que alcançamos se desmancha
Ao cair de mais um dia
E ainda assim sorrimos ao pouco que nos resta:
Esse cinzento amanhecer
Seguido de mais um velho dia
Como se fôssemos tocados
Pelos ventos da melancolia... 


Priscila de Athaides – 01/09/04

terça-feira, 14 de março de 2017

Notas sobre a depressão



Depressão é uma sombra que te cobre lentamente,
Distorce os seus pensamentos,
Te entorpece o corpo, se disfarça de apatia
Te sussurra coisas absurdas
Te faz ninguém.

É o peso que ninguém sustenta,
A inconveniência dos seus sentimentos,
É estar envolta por uma solidão invasiva,
Se sentir perdida nas coisas que se ama
E se encontrar ferida nos detalhes que te constituem.

É o grito silencioso
Que todos fingem não ver,
A correnteza estagnada,
O fluxo mental que arrodeia os pesadelos,
Vívido, ainda que invisível.

É a vontade de estar só,
Se afundar na dor que te toma,
Não fazer sentido, mas ser toda a razão.
Os estilhaços grudados criando rachaduras
Aos poucos se desfazendo fragilmente.

Mas o tempo vem e destrói
Tudo aquilo que te inquieta a mente,
E reconstrói, memórias efêmeras
Feridas abertas,
Lições pragmáticas.

O tempo é o destruidor de todas as coisas,
Das coisas boas, dos momentos ruins,
Dos amores, das pessoas, dos impérios
De você. E o tempo vem.
E te levará também, eventualmente.

Priscila de Athaides – 14/03/2017