segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Multi egos

Não sou o reflexo do espelho,

Deformado pelo tempo,

Mudança constante,

Temporal e finita.


Não sou o rosto fotografado,

Congelado,

Limitado ao conhecimento passado,

Perdido.


Sou aquela que não conheço,

Construída pela posição planetária,

Limitada a carne,

Em busca da transcendência.


Sou multifacetada,

Ansiando motivos vários.

Desmistificada em Freud,

Destrinchada em genética.


Eu sou o sopro do divino

Em minha carne barrosa,

As vozes caladas

Em minha moralidade imposta.


O individual do conjunto,

O elétron do átomo,

O átomo da célula,

A terra do sistema solar.


Priscila de Athaides – 28/09/2009

São poucos os rostos que amam

Se em todos os rostos ligeiros

Existem histórias efêmeras,

Amores partidos,

Tempos perdidos,

Na minha história existe vaidade,

A minha sutil verdade

De um amor eternizado

Pelas horas preenchidas

No tempo que foi e que vem.

No seu rosto a minha história

Escrita em vidas passadas,

Perdida e encontrada,

Para se eternizar nesse momento

Que somos nós e sabemos

Já não mais existir dúvidas,

São poucos os rostos que amam.

Eu sou.

domingo, 27 de setembro de 2009

Espera

É cruel essa espera, desanima. Não entendo esse mundo em que se deve jogar com o outro, fingir que não é o que é. Seguir conselhos pra se normalizar. O bom é explodir. E esperar para algo que se quer aconteça, fingir que não depende só de si, isso me desanima. Sei que muitos esperam, gostam da espera, gostam de jogar com o olhar do outro e sentir-se desejada a distância. Não suporto. Eu acabo partindo. Me desgasto. As vezes a resposta da espera alivia mais a alma do que a espera em si. Seguimos em frente. Já esperamos tanto com a vida, a idade passar para estarmos maduros, espera-se, espera-se. Porém sentamos em frente a telas rápidas e ansiamos. É complicado esperar que a vida venha, entediados, aguardando do outro algum sinal, aguardando que o outro venha, quando já estamos aqui, preparados.


E então que venha outro dia, o mundo nos enche de amor e o desperdiçamos, esperamos o perfeito, o perfeito não vem. Esperamos o momento perfeito, a música perfeita, o cheiro perfeito, as horas perfeitas, o completo, a naturalidade, as feridas cicatrizarem. Nada vem. E então partimos e nem percebemos o quanto deixamos de viver com essa espera. O tempo não para enquanto esperamos, ele escorre de nossas horas e torna toda a espera esquecimento. Viramos meras lembranças rápidas de uma época que desejamos por algo que nunca aconteceu, porque o tempo toma todas as direções quando não nos direcionamos por ele.


E então escutamos que não devemos desejar, esperar, apenas viver, sem aguardar nada do próximo. E nos achamos tolos, porque na espera o outro decide por nós. Decide que esperamos tanto a toa. E confusos, não sabemos se esperamos mais um pouco ou vamos embora. Dizem que por querermos demais, nos decepcionamos. Devemos apenas aproveitar o momento. Vamos saborear com uma pitada de caos.

Priscila de Athaides – 27/09/2009

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Olhares perdidos

Éramos forjadores de olhares,
Nos tocávamos pela distância
Que o espaço nos ditava,
Não havia laços, não havia palavras,
Apenas o desejo de estarmos.
Éramos imitadores dos amantes
Procurando sentidos na pele,
Tínhamos os rostos cobertos
De falsas vontades errantes.
E então, já não mais somos,
E eu permaneço buscando no tempo sentidos,
Para ter no efêmero os seus olhos,
Que já me olham estranhos.
Então não te quero mais me procurando,
Tire os seus olhos de mim
Que em mim já não mais basta
Olhares para me diminuir.
O tempo cura e permanece
A memória de promessas vazias,
Entreguei-me para me encontrar perdida.
Nunca houve nada aí,
Não há mais nada aqui.

Priscila de Athaides – 17/09/2009

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Mariposas mortas


Sentei-me a beira das pedras do farol,

Nas terras perdidas de Paraguaçu,

E observei o trânsito caótico

De sonhos fluindo em esquinas sombrias.

Transitavam as palavras em meio aos turistas,

Muitos flashes, muitas histórias,

O nosso olhar perdido no horizonte,

Enquanto o sol enraizava-se nas águas claras

Em lágrimas que arranham essa terra trópica.

Sentei-me e ouvi a sua brisa fria

Falar-me de seus grandes olhos vazios

Abandonados em meio as pedras,

Guardando nesse mar revolto

Histórias vespertinas de paixões contidas.

Eu me perdendo em seus vermelhos cabelos de fúria,

Nas suas palavras sofridas, em seus lábios manchados,

Carregando-me em suas histórias tortas.

Nunca fostes minha em meio às mariposas mortas,

Agora és uma memória amargando em meio a brisa,

E o farol não mais me guia em tardes frias

Nesse inverno de histórias invertidas.

E se o entardecer dourava nossas faces pálidas,

Anoiteceu querida, na nossa história finita.


Priscila de Athaides – 15/09/2009

sábado, 12 de setembro de 2009

Mundo estranho

Há quem diga que está tudo reservado. A vida segue de uma forma óbvia, ainda que não aconteça da mesma forma para todos. Está tudo reservado. O amor, o ódio, a esperança, a morte, o próximo dia, casamento, filhos, trabalho, formatura, etc. Entretanto tudo que está reservado um diase revela. E aí, como proceder?

As respostas parecem óbvias, e talvez sejam, para a grande maioria. Mas então pra transformar em pó tudo o que é conquistado, basta algumas palavras que soam erradas, algumas ações que parecem imperdoáveis, basta um certo julgamento. Basta viver tentando ser único. A singularidade é a maior arma contra o indivíduo. Espera-se sempre o mesmo de todos, e todos é um conceito massivo.

E então eis que o que há de mais certo chega. Morremos e as marcas que deixamos viram pó. Somos diferentes. Somos iguais. Viramos pó. E o mundo que nos esquecerá, nos marca. Sofremos com ele e ele nos arranca todos os nossos suspiros inúteis para misturar ao ar e desaparecer.

Hoje é uma noite quente de inverno. Não há uma nota de humidade no ar e os pensamentos costumam aflorar em noites quentes de solidão. E eis o maior medo humano: Solidão.

Certa vez ouvi dizer que o homem passa a vida inteira procurando o amor e quando finalmente alguém oferece, o homem estremece. E dizem que é um mundo estranho. Está tudo ao nosso alcance para afastamos das nossas mãos. Está tudo ali, reservado. Mas e aí? O que se deve fazer quando tudo o que buscamos na nossa vida nos encara? A encaramos de volta? O conceito de felicidade é igual para todos? Todos nascemos para amar? Todos tememos a solidão? A vida é assim tão igual para todos?

Sim. É um mundo estranho e somos todos iguais diante dele, racionais e previsíveis. Talvez tudo seja fácil demais e complicamos dentro dessas longas reflexões sobre a vida. Talvez seja complicada demais nessa simplificação. Queremos ter o que nos oferecem e aceitamos o caminho mais fácil. Vivemos a custa de imagens e esquecemos que as pessoas que nos rodeiam não deveriam ser definidas com cor, gênero, opção sexual, idade, beleza, condição financeira. Generalizamos e nos esquecemos da própria humanidade. Me fale em ironia e eu apontarei para o mundo.

E então continua uma noite quente e aguardo alguém enxergar acima dos seus pré-conceitos e perceber que aqui jaz um ser humano. Imperfeito de todas as formas, como todos os outros. Perfeito para a sociedade que abraça a sua improdutividade e que bagunça com a sua cabeça para que consuma essas idéias pré-definidas de tudo o que nos rodeia. Tola de todas as formas, buscando teorias de amor inúteis e afirmações estúpidas de liberdade. Procurando não abrir a caixa de Pandora e liberar aquilo que acabaria com a esperança. Mas tudo se agarra ao óbvio e nasce um novo dia.

Priscila de Athaides – 12/09/2009

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A escrita

A escrita é o lado mais íntimo do humano.

É algo que fica,

Não se esvai com as areias do tempo.

É a sujeira do poeta,

Que por mais que se escorra,

Mais suja a alma.

É a face oculta do homem,

O que não deve ser dito,

E se explicíta...

A escrita é o mais profundo da alma,

E está revelado.


Priscila de Athaides - 09/09/09 (how cool is that?)

O jardim do tempo


Criado na aula de criação literário em que o tema era "pescar" 3 palavras de um livro para fazerem parte da produção. As palavras foram 'jardim', 'tempo' e 'rainha'. Adivinhem qual era o livro?

Adentrei-me no jardim do tempo. Buscava retornar os ponteiros da vida e despontei-me com a solidão da eternidade.

As rosas enrugavam-se, despetaladas em terra fértil para retornar as rosas, para retornar a história, para retornar às pétalas, para retornar ao pó.

E do pó brotavam homens, carregado do sopro divino. Os seus rostos eram lisos, até o cair da noite. Corriam contra o tempo para mergulhar os seus corpos em lagos e congelarem-se. Os corpos intactos, a vida perdida.

As mulheres eram rainhas das horas. Controlavam o tempo a seus desfavores. Plastificavam as rosas. Corroíam as suas imagens para projetarem em espelhos as faces de suas juventudes efêmeras.

Até virarem pó, e do pó cair em terra pra brotarem em rosas, em homens, em histórias, nas pétalas, no pó.

Priscila de Athaides 04/09/2009