terça-feira, 28 de junho de 2022

Reflexões não solicitadas - O tempo

 


Parte X 

O tempo me perpassa com a leveza do bater de asas de uma borboleta, voando aleatoriamente pelos céus e repousando-se em meus dedos, para logo partir. Não se pode ver e não se pode tocar o tempo para controlá-lo, não tem como prever seus efeitos caóticos. Ele apenas vai, independente dos nossos desejos e do que planejamos. E sem controle, pessoas também se vão e pessoas vêm. Que tenham uma boa estadia em minha vida e que quando partirem, que seja com boas lembranças e mais conhecimento de mundo. Que se tornem mais sábias e se abram para novos ciclos, mas levem com elas um pedaço de mim que lhes acrescentem algo. E deixem um pedaço delas em mim que me transforme, me adicionando novas camadas de um complexo eu, ainda em construção. Hac in hora sine mora.

Vejo da minha janela a sutil mudança das estações, um tempo tão familiar e corriqueiro que oculta a face dos movimentos do universo. O céu nunca é o mesmo e as suas movimentações tornam esse dia de inverno diferente do anterior e do que virá. Quem eu serei lá na frente? E quando eu me for, a lua estará nova como a dessa noite encoberta de nuvens? Ou cheia de sentimentos e ressentimentos por coisas não vividas?

A estrada se estende longamente, mas uma hora termina. Nem sempre ela é de tijolos amarelos. Mas seguimos em frente em busca do nosso lar. Esse lar, algum lar, que talvez não saibamos qual é, mas uma hora chegaremos e nos sentiremos acolhidos. Será que o fim terá algum propósito? O que teremos semeado pelo caminho? O que deixaremos pra trás? O que levaremos conosco?

Já se pegou pensando em como tudo teria sido diferente com apenas um sim? Ou com um não antes de tudo o que se passou? Como estaríamos hoje? Eu sinto que o sim e o não me tiraram de um lugar comum e agora percebo que tudo deveria ter sido como foi. Maktub.  Eu me sinto tão agigantada e te vejo lá do alto, se apequenando em silêncio e mágoas. Esse lugar já não me serve mais. Quero partir em paz, pois me sinto como a lagarta azul transformada em borboleta, voando aleatoriamente pelos céus e pousando em seus dedos, para logo partir. E quem é você?

O tempo tem esse enorme poder de fazer as engrenagens dessa grande roda girar. O que vai, vem. O que desce, sobe. O que inicia, termina. Não temos controle, mas precisamos de paciência para compreendermos esse processo que nos devora, não importa o que façamos. Ver-te ficar para trás, murando-se em seu abismo profundo, me trouxe a certeza de que consigo superar a sua ausência, pois o tempo cura as feridas e muda perspectivas. As chananas desaparecem e reaparecem, embelezando o meu caminho. Os girassóis murcham e renascem. Os pássaros fazem seus ninhos em meu telhado. Posso acompanhar esse ciclo, vendo os passarinhos aprendendo a voar enquanto entoam seus cantos ao amanhecer. E logo se vão e outros virão. E a vida não para, mas nós uma hora nos vamos também. Um dia Caronte vem cobrar o seu preço. Você está feliz com o que tem para quitar a sua dívida terrestre? 


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