Parte XVIII
Eu recebi as palavras mais duras vindas da sua
brilhante mente. Minha vida seguiu o seu rumo para uma apática tentativa de
estar feliz sem você. Seguia em frente sem o brilho que a sua presença me
trouxe. Procurei te substituir de várias formas. Nada me alegrou tanto como as
doces horas ao seu lado. Queria entender o propósito sagrado da sua chegada, e
a devastação de não te ter mais na minha vida. A vida segue, mesmo que pálida e
menor, ela segue.
Eu desejei todos os dias que você voltasse,
trazendo sentido para os meus dias tépidos. Te manifestei. Sussurrei ao vento,
vento querido. Pois você foi o brilho que me levava a um estado de êxtase
jamais alcançado antes. Suas lembranças me assombram, já que não há quem as
substituam. Você é ímpar em minha vida e isso é uma convicção que tenho.
E eu estou feliz onde estou. Sou suficiente dentro
da minha solitude. A vida continua em movimento e eu aceitei de bom
grado o que me foi ofertado. Eu tive momentos agradáveis enquanto o tempo nos
distanciava para uma memória esvaindo-se aos poucos. Eu tentei estar bem após a
sua passagem em minha vida, porém você sempre estava lá, como uma promessa
quebrada me assombrando em devaneios mentais sobre o quanto você me fez feliz.
Você foi felicidade fluindo em meu corpo inteiro, me alimentando a mente com
sussurros dos nossos segredos mais profundos. Construímos um mundo particular e
percebi que aquele lugar era o breve lar que me abrigou em perfeito encaixe.
Mas fui expelida para uma terra desolada. Me sinto perdida em busca de um território
que me acolha como os seus braços. Nada me comporta como você. Me sinto
despatriada.
Eu recebi as palavras mais duras da sua brilhante
mente. E me senti explodindo, como supernovas. Você ainda me tem em sua mente,
relembrando esse lar que você achou em mim. E a minha ausência te foi tão ou
mais danosa do que a sua em minha vida, ainda que você não admita por completo.
Como viver uma vida funcional após se afastar de um momento de real amor? Como
estar bem quando você se debate com um deslumbre de felicidade e decide se
esconder em um local assombroso e sem vida? Você virou uma sombra de quem um
dia já foi, pois soltou as mãos da alegria ofertada e perdeu todo o potencial
de um propósito maior na sua vida além do que você se encontra agora, cheio de
monotonia acinzentada. Você não se permitiu viver essa história, e talvez os
motivos para partir sejam lógicos na sua racionalidade. Mas valeu a pena, visto
o local em que você está agora? Você se enfiou neste abismo e decidiu ficar
ali, ao invés de escalar esses pedregulhos em busca do espaço florido com
papoulas no topo, deslumbrando esse caminho de tijolos amarelos, ainda que
cheio de desvios e armadilhas. O caminho para a cidade de Esmeraldas abrange
algum vislumbre de um destino que não se resume a talvez achar
algo ou alguém que dê sentido a sua vida, mas esse caminho vai além e precisa
ser trilhado. Esse caminho traz uma percepção de você. Não há felicidade se
você se abandona e estagna com medo de possíveis feridas ou uma vida tediosa.
Algumas vezes vamos quebrar alguns ossos, mas o tempo cura essas chagas. A vida
precisa desse movimento para não nos perdermos em vazios existenciais. Há
outros caminhos além desse que você se enfiou. E eu sei e você sabe, não
existem pessoas como nós para nós e que nos entregue tudo aquilo que temos para
nos ofertar. Juntos fazemos sentido e você sente falta disso. Então me faça
entender essa separação a que você me compele.
Mas aí está você, encarando o topo deste abismo,
observando o belo céu azul escuro iluminado por estrelas, te convidando a sair
deste lugar. Sors salutis et virtutis. Esse breve
momento em que você voltou foi tomado pela esperança de estar novamente em seus
braços, ainda que por um instante.
E aqui estou eu, estendendo as mãos para caminhar
contigo. Eu te quero bem, eu te quero feliz. Já não nos basta mais essa vida
eremita que nos enfiamos. Você sentiu essa fagulha e sabe que já é hora de sair
das sombras. Embarque, abarque, se permita ser feliz de novo, como fomos, como
podemos ser. Como é para ser, mesmo que não seja.
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