domingo, 24 de julho de 2022

Reflexões não solicitadas - Construção

 


Parte XVII

Hoje eu me peguei pensando sobre o que que quero em um relacionamento. Acredito que apenas aceitamos aquilo que vem e por isso estamos sempre tão perdidos em nosso caminho, aceitando qualquer desvio que parece oferecer algo agradável, mas que não nos comporta. Proponho esse exercício: Converse contigo mesmo sobre o que você quer em um relacionamento e analise se a pessoa que está ao teu lado pode te entregar o que você de fato precisa e quer. Se não, compartilhe com ela o que você busca em um relacionamento e veja se ela pode te dar isso, se vocês podem chegar em um denominador comum. Caso os seus planos não estejam alinhados, talvez seja o momento de vocês reverem se vocês querem estar juntos de fato ou se o que vocês têm hoje é realmente bom para ambos. Porque estar bem com o que você tem importa também, desde que você esteja confortável com essa situação. Mas se não for o caso, reavalie e siga o seu caminho, se você puder. Au revoir. Não tem nada de errado em reconhecer que o que você tem não é o melhor para você. Pelo contrário, na verdade, ir atrás do que você realmente quer demanda uma força interna gigante. Mas é necessário que a gente se dê o que queremos e precisamos. É a nossa vida e devemos buscar plenitude nela, evoluir nela, alcançarmos felicidade nela, sabendo que felicidade não é constância e nem eufórica, mas a junção de pequenas coisas em nosso cotidiano. Precisamos saber apreciá-las.

Mas afinal de contas o que eu quero? Sabe quando você conhece uma pessoa e você percebe que pode conversar sobre qualquer coisa com aquela pessoa e um assunto leva a outro que leva para outro e leva para outro a ponto de você começarem a ver vários pontos em comum e entender os seus gostos e visões de mundo? Então você começa a compartilhar uma infinidade de coisas com ela: Ouça isso, veja esse vídeo, assista a aquele filme, leia esse texto. E então, quando você menos espera, você começa a perceber que tudo te lembra essa pessoa e que você quer compartilhar o seu mundo com ela. E quando vocês se encontram você sente uma boa sinergia, o toque da sua pele é magnético, o cheiro da pessoa te agrada, a textura do seu cabelo, a forma como ela te olha enquanto você fala, como você se pega hipnotizado pelo que a pessoa tem a te falar. Tudo o que você quer é estar naquele momento apenas sentindo as várias particularidades daquele ser humano, trocando todo o tipo de experiências. E tudo vai se desenvolvendo de uma forma orgânica, seu beijo combina, seus corpos se encaixam, vocês se levam ao gozo, você se sente à vontade para compartilhar a cama juntos. E então vocês percebem que querem aquilo, que querem mais e todas as vezes que vocês se encontram, mais o nível de intimidade entre você cresce e já estão tão à vontade com os barulhos dos seus corpos, suas rotinas, os seus cheiros humanos, os seus hábitos estranhos. Vocês começam a ter piadas internas, são bobos um com o outro, compartilham seus traumas e suas histórias de vida a ponto de você se dar conta que conhece tanto essa pessoa, toda uma vida, toda uma complexidade que os seus mundos já foram totalmente afetados e transformados. Vocês já não são mais os mesmos.

E eu quero ser o centro amoroso da vida dessa pessoa. Quero construir uma vida junto a ela, compartilhar o meu espaço com ela e ter o espaço dela compartilhado comigo. Mas que tenhamos direito à nossa individualidade. Que possamos sair, que possamos ter nossos momentos de solitude, que possamos ver os nossos amigos tranquilos sem haver nenhum tipo de controle ou brigas, que possamos comunicar o que sentimos, as coisas boas e as coisas ruins, e sentirmos que estamos sendo acolhidos. Quero alguém que esteja alinhado comigo, mas que continue fazendo as mesmas coisas que fazia antes, que não se afaste dos amigos nem da família. Mas que tenhamos os nossos momentos apenas entre nós também. Que a gente possa ir pro cinema juntos, coma em restaurantes juntos, cozinhemos juntos, passamos uma noite comendo e bebendo juntos e rindo de tudo até passarmos mal enquanto ouvimos música, que comecemos a ver séries juntos e passemos horas conversando sobre teorias, que a gente tenha filmes favoritos juntos, nossos fomes, nossas músicas, nossos momentos. Que a gente receba nossos amigos em casa e passemos uma tarde jogando, comendo pizza, bebendo cerveja e falando besteira, e que nossos amigos sejam todos bem-vindos e se sintam bem conosco, que saiam da nossa casa sentindo que tiveram um momento super agradável conosco e que somos ótimas companhia, pois não há momentos estranhos e nem estranhamentos. Mas que também possamos ir ao cinema sozinhos, porque aquele filme de terror não agrada a ele e o filme de ação que ele gosta não é interessante o suficiente para mim a ponto de pagar um ingresso, e tudo bem. Não vamos deixar de fazer o que gostamos porque o outro não quer fazer. Que possamos passar um dia vendo uma série que o outro não gosta tanto enquanto o outro passa o dia jogando videogame, sem sentir que temos de fazer companhia um ao outro, respeitando os nossos momentos sem ficar em cima ou achando que porque somos um casal, só podemos fazer coisas juntos. Que possamos sair com os nossos amigos sem a companhia um do outro sabendo que não precisamos ser controlados ou monitorados, pois confiamos em nós.

Que possamos compartilhar tudo sabendo que a pessoa vai nos ouvir, que vamos buscar soluções juntos, que vamos nos apoiar, nos acolher e entender o que queremos falar, sem o peso do julgamento, sem brigas, sem imposições. E que não exista segredos entre nós, mas não porque existe uma necessidade ou um pacto dentro do nosso relacionamento, mas porque gostamos tanto de compartilhar nossas coisas que queremos contar tudo o que acontece conosco todos os dias. Que não haja jogo, ou medo de falar algo e a pessoa se afastar ou achar que somos loucos – ou até ache, mas de uma forma adorável. Que possamos assumir que admiramos outras pessoas e que possamos ter desejos sexuais fora do nosso relacionamento, mas que não passa disso, pois no final das contas, queremos estar juntos e não desperdiçar o que temos por qualquer pessoa que apareça, pois queremos uma vida juntos e nos satisfazemos, mas somos humanos. Que a gente seja nós. É isso o que eu quero, uma pessoa com quem eu possa ser eu, nos níveis mais íntimos de mim, e ela olhe para mim e pense o quanto ela é privilegiada e o quanto me admira e ama estar comigo, mesmo quando não nos entendemos, mesmo quando não concordamos um com o outro, mesmo quando brigamos. E que a gente saiba lidar com esses momentos, pois somos seres complexos e não podemos estar sempre bem um com o outro. Mas que possamos lidar de forma madura e que façamos de tudo para nos resolvermos. E que a pessoa fique, não importe o quão difícil esses momentos pareçam ser. Que a pessoa sempre me escolha.

Que essa pessoa seja sempre cheia de comunicações, que haja em busca de resolução e de entendimentos, que a pessoa demonstre que está ali e que está considerando tudo o que conversamos, que haja sempre trocas, que respeitemos o espaço um do outro e os nossos momentos. E que seja natural, que seja nosso, que seja algo que simplesmente é, pois estamos alinhados. Que sempre foquemos em nossas qualidades ao invés de nos colocar para baixo ou apontar os nossos defeitos (e que a gente ame os nossos defeitos, pois fazem de nós únicos e complexos, fazem parte de nós também), que nossas piadas sejam sempre para nos elevar ao invés de nos diminuir, pois queremos evitar momentos constrangedores ou fazer com que o outro se sinta mal de alguma forma. Mas que quando algo que fizermos nos machuque de alguma forma, que possamos conversar e procurarmos melhorar a nossa atitude. Que a gente cresça juntos. E que a gente evite usar os nossos complexos e traumas um contra o outro.

E quando eu encontrar essa pessoa, quero construir uma vida ao lado dela, um lar, uma família. Quero que seja duradouro, que a gente crie planos juntos e faça-os acontecer. O fortuna. Que possamos morar juntos, que possamos criar uma rotina juntos, uma comunhão. Que a gente cresça materialmente e nos apoiemos em nossos projetos, que nos ajudemos, que nos alinhemos. Que a nossa casa seja uma mistura de nós, a nossa estética, nossas plantas, nossos gatos, cachorros, pássaros, nosso cheiro, e o que mais tiver de ser. E que tenha um quintal para que possamos nos sentar ao fim de um longo dia de trabalho e possamos apenas olhar para o céu e apreciá-lo, em um silêncio confortante, bebendo uma taça de vinho e comendo uma comida bem confortante, contemplando o que construímos juntos, agradecidos. Que a gente se ajude nos trabalhos domésticos, mas também que não nos cobremos, que saibamos dividir esse trabalho igualitariamente, mas sem ficar no pé um do outro. Que a gente não se sobrecarregue, mas que nos equilibremos. E que a gente sempre celebre a nossa vida, que a gente sempre se divirta um com o outro. Que essa pessoa sempre me faça rir e que eu sempre a faça gargalhar com minhas piadas bobas e o meu sarcasmo. Que ela se empolgue junto com a minha empolgação com as coisas e que eu possa a escutar quando ela fala sobre as coisas que ama fazer e também me empolgue com elas. Que possamos fazer o que amamos juntos.  Que eu olhe para ela e fique encantada com a sua beleza única, que eu passe a mão em sua face com uma enorme admiração, que os nossos dias sejam repletos de palavras amorosas e toques carinhosos, beijos acolhedores e abraços acalentadores. Que seja real amor repleto de companheirismo. E há de ser. É. Está feito. Eu sei que essa pessoa está logo ali, ao alcance das minhas mãos, aguardando o tempo certo para nos encontrarmos, para termos esse mesmo propósito de vida, pois já vivemos histórias que não nos comportam mais e já sabemos o que queremos baseado nas coisas que vivemos e não foram, já que nós somos a nossa história e vamos nos reconhecer um no outro quando nos encontrarmos.

Então sigo caminhando para esse horizonte esmeraldino para além dos campos de papoula, em busca do meu lar. Em meio a tantas desventuras e confusões internas, eu sei que olhar ao meu redor, estar em contato com a minha essência, viver o agora e me centrar na terra que me aterra me faz ver claramente a miragem que se forma em minha frente e se solidifica. Posso quase tocar, está bem ali. Você aí no abismo certa vez me perguntou o que eu queria e eu não sabia te dizer o que. Agora eu sei. Me pergunto se você poderia me dar tudo isso, algo tão simples e tão complexo, e creio que muito provavelmente não. Mas saber o que eu quero torna a jornada mais leve, pois sei que o que ficou para trás não me servia e agora posso estar em busca do que me abarca. Em paz.

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