quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Releitura: Ausência

O desejo de te amar
Vou deixar que acabe em mim
Porque sinto que meu esforço
Será em vão.
Tu te tornaste
A minha própria pessoa
E eu sinto que em meu gesto
Existe o teu gesto
E em minha voz,
A tua voz.
Não te quero ter
Porque tudo aquilo em que acreditei
Seria desperdiçado
Quero que sejas apenas o meu nada.
Deixarei que se vá
Assim encontrarás outros amores
Beijarás outros lábios
E serão outros corpos que irás amar.
Mas aquela que tanto te amou, fui eu
Porque foi com o teu amor que sonhei
Porque beijei outros lábios pensando em ti
E amarei outros corpos como se fossem o teu
E fui eu que em face a solidão
Me deixei desejar isso
Mesmo sabendo que de ti nada teria.
Ainda assim
Eu fui aquela que mais te teve
Porque todo o silêncio
Todas as canções
Todas as lágrimas
Serás tu, em mim

Priscila de Athaides – 10/04/02

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Vinícius de Moraes

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