segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Não sou eu

Somos carnes
Apimentados
Comemos com prazer
Digerimos com nojo
Somos efêmeros
Sem mente, sem história
Sem nome
Somos sem tempo
Um breve momento
Descansamos em paz
Olhos abertos, olhos fechados
Não há ninguém
Olhamos pra nós
E aquele que chora
E aquele que ri
Não queremos ver
Não queremos sentir
E que descanse em nós a solidão
Pois não há ninguém em nossas camas
Apenas carne
Apenas calor
Às vezes o mesmo rosto
Às vezes tantos
Às vezes nenhum
Sentimos aquilo que nos convêm
E o que é projetado no outro
E não reflete em nós
É exilado para sempre,
O outro que não sou eu.
Até o anoitecer da vida
Apagar o sol em nós

Priscila de Athaides – 06/10/2008

2 comentários:

Namelessbr disse...

O texto é muito bom, tens o dom da palavra e consegue atráves dela transmitir sentimentos...
Será que realmente somos assim?
Bjos

"Caxinhos"

Ellen Joyce disse...

Aquele efeito causado pela última palavrinha pendurada no poema... é, esse mesmo, bonito, bem feito, lapidado...
Muito bem!