Parte VI
O
que é a felicidade que tanto perseguimos? Seria algo palpável? Seria algo
duradouro? Felicidade foi estar em seus braços nos dias mais longos. Mas também
é ouvir palavras amáveis de reconhecimento por pessoas que acompanham nossa múltipla jornada cotidiana. Felicidade é observar a beleza ao
redor, estar no momento. Felicidade está no propósito de vida sendo cumprido e
saber que estou fazendo alguma diferença na vida das pessoas. Sou fagulha que
se espalha, iluminando alguns caminhos. Todos somos. Mas se dar conta disso é
estar em contato com a felicidade interior.
Mas
a felicidade é cíclica. A roda gira. A mente passa por fases. A vida passa por momentos certeiros de caos, como 8 flechas a caminho, sem distinções de estados e estações.
Felicidade é um estado mental, é um emaranhado de sentimentos, é reconhecimento
interno e conhecimento externo do que nos rodeia. É o apoio de quem nos cerca,
o abraço materno que acolhe, um almoço caseiro de domingo, uma música que nos
faz querer se levantar e dançar. É cantar e cantar e cantar! É olhar para o
outro e ver um espelho e se sentir acolhido. É uma conexão mental tão forte que
te tira da apatia. É novas descobertas. Novas músicas, novos filmes, novas
histórias, novas pessoas. Mas também o velho, o nostálgico, ver algo e viajar
mentalmente no tempo, para outra época e sentir uma gostosa saudade. Pois
felicidade já foi e também será.
É
gargalhar, é uma boa conversa, sentir prazer nas palavras, entrelaçar os corpos
em uma gostosa soneca, seu cheiro, seu sorriso, despertar abraçada. É o som do
mar da sua janela, observar as ondas que vem e vão e a lua refletida nas águas,
sentindo a brisa do mar e ouvindo a cidade calma e tranquila.
É
o ronronar dos gatos, o abanar do rabo dos cachorros, o som dos pássaros, os
girassóis no jardim. São as sazonais chananas que me cobrem o caminho de flores,
mesmo sabendo que elas irão desaparecer e retornar. É observar as aranhas
tecendo as suas teias, os besouros metálicos nas folhas, as abelhas nas flores,
as borboletas amarelas no ar, o trabalho colaborativo das formigas. A vida
minúscula ao nosso redor que tanto desprezamos, mas é a natureza seguindo
independente de como estamos, da política do mundo, de níveis sociais. É a
natureza em essência. Essa essência que engarrafamos e nos permitimos sermos tomados por egos que nos impedem de ver a felicidade acontecendo ao nosso
redor, pois estamos tão voltados para o que precisamos acumular para uma suposta felicidade materializada, que esquecemos que a
felicidade está bem ali, nos acompanhando no detalhes cotidianos.
Eu
fui feliz contigo, imensamente. Mas sou feliz aos poucos a todo instante, em
tantas pequenas coisas. E te ofereço essas pequenas felicidades cotidianas,
pois agora entendo que são esses pequenos momentos que nos mantêm bem. Não o
sentimento grandioso que explode por dentro, mas o instante que nos perpassa
tranquilo e nos faz observar o pôr do sol que acontece todos os dias, mas que
ainda assim enche nossos olhos da mesma beleza exuberante, sempre, como se
fosse a primeira vez, para em seguida sermos mergulhados nessa escuridão iluminada
pela mística lua e tantas estrelas, tantas supernovas, brilhando imensamente
fascinando-nos cheias de mistérios e traçando nossos destinos nesse universo de
possibilidades.
Você
sobe comigo esse abismo em que escolheu se esconder, aliviando o peso da sua solidão travestida de paz, ou terei de finalmente cortar
esse fio prateado que me prende a você? Pois te ofereço os meus braços que te
trouxeram felicidade outrora ou te vejo ficar para trás e encaro esse horizonte
que se apresenta, cheio de obviedades e surpresas. E poderei ver a beleza das pequenas
coisas que me trazem felicidade. Com você, só comigo ou abrindo caminhos para o
que ainda vier, pois a vida segue e o novo sempre vem. Nunc obdurat et
tunc curat.
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