Parte IX
Temos uma tendência na vida de não abraçarmos o
novo. Uma certa passividade acolhedora que não nos permite caminhar nessa
estrada que se apresenta. Isso nos limita tanto. A vida tem muito mais para nos
entregar do que imaginamos e ficamos sempre presos àquilo que nos é familiar.
Não é você apenas, mas sou eu também. Essa mudança precisa vir primeiro
internamente. Como sair das experiências que nos afundam? Os traumas, os
problemas, os medos, os contratempos, as opiniões cristalizadas, as autossabotagens,
pensamentos que nos devoram? O que fazer com tudo o que vivemos? Às vezes as
nossas bagagens pesam tanto que ficamos paralisados, com medo de nos abrir e
deixar para trás o que não nos serve mais, ficamos sem espaço para o que ainda
está por vir.
O tempo é relativo. Os dias se repetem e se auto
devoram, exceto quando algum acontecimento nos tira um dessa rotina, uma
pessoa, algo bom, algo ruim, algo. O tempo é lento e rápido, dependendo da
perspectiva em que nos perpassa. E o seu ritmo é descompassado em cada um.
Quando nos damos conta, nossa juventude já ficou para trás e o que construímos
na nossa vida? Quais os nossos legados? Por onde estão as nossas raízes? Quais
são as nossas verdades? Que sonhos saíram dos nossos rascunhos e pudemos
vivê-los? Quais são os nossos sonhos?
O país da maravilha é confuso e estranho, mas nos
faz ver o mundo por uma outra perspectiva. Quem somos nós? Às vezes somos
gigantes, às vezes minúsculos. Nós somos tantos para todos e tantos em nós
mesmos, mas somos únicos no universo que está acima de nós e dentro, se
expandindo. Uma hora temos de sair da toca do coelho e adentrar o outro lado do
espelho. Encarar o nosso reflexo e ver o mundo ao contrário, encarar as nossas
sombras, se aprofundar no que se esconde do outro lado de nós que quase não
acessamos. Nos curar das sombras encovadas em nossas mentes.
Precisamos nos permitir, abraçar o novo, testar
novas águas, mas precisamos de cautela, tempo para maturar, mergulhar os pés e
sentir a temperatura da água, pisar aos poucos para saber a profundidade, e só
assim mergulharmos por completo nesse mar que guarda segredos que nos abrem
para outros mundos mentais. Não há pressa, necessita-se temperança, mas há a
necessidade de irmos além e perceber se aquele lugar nos pertence, se nos
acolhe.
A magnificência da vida é que sempre podemos voltar
ao nosso lar, nos retrairmos e tentarmos de novo. Sempre há lugar para
renovação, para cura. Mas a vida não para. E se ficarmos parados esperando que
algo chegue até nós, enclausurados em uma torre aguardando algum resgate, esse
resgate não vem. A torre será derrubada pelas mãos divinas do nosso destino e reconstruir-nos-emos
é um processo longo e cansativo, sempre haverão rachaduras e sequelas. Sors immanis et inanis.
Precisamos estar mais atentos ao sinal. Este é o
seu sinal. Caminhe até o jardim e sente-se no gramado entre as folhas e flores,
feche os olhos e sinta o seu redor. Respire e ouça os sons que te rodeiam, a
gargalhada das crianças, o som dos carros, dos pássaros, do vento, das
conversas, do seu corpo. Sinta o cheiro da cidade, da maresia, da grama. Sinta
o sol queimando a sua pele e as plantas te tocando, os insetos pousando em sua
pele, a brisa do mar que te refresca. Sinta-se, perceba-se, converse contigo,
veja o que o seu olho interno te mostra, quais imagens que te vem à mente,
aproveite o silêncio, ele diz muito. Em seguida retorne aos seus afazeres, mas
anote os seus insights. Se entenda, conecte-se contigo. Não com a frieza
de uma mente racional, mas dentro daquilo que a sua intuição te diz. Construa
novos lugares internos e externos. Permita-se! Você tem o seu mundo em suas
mãos e ele se estende para aquilo que você quer, o que você atrai, o que você
busca. Seja feliz e que a sua caminhada te leve a lugares abundantes. Te desejo
todo o amor do mundo. Saia desse abismo em que você se recolheu e construa,
semeie, colha, se espalhe como pólen pelo ar, enraíze-se na sua caminhada e dê
frutos. Cresça e fortaleça as suas estruturas. Eu te quero muito bem. Te quero
sempre. Se cuida.
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