Parte XIV
A
vida é movimento. Às vezes parecemos estar pendurados e precisamos enxergar as
coisas de outros ângulos. O nosso redor está sempre mudando de alguma forma. As
estações, os ciclos das plantas, as horas, as pessoas que nos rodeiam, o clima,
a lua, os ventos. Nada fica de fato parado, por mais que nos sintamos assim.
Crises passam, monotonia é momentânea, pessoas vem até nós e continuam os seus
eternos ciclos, conhecimento vem, novas músicas nos alegram o dia e amores
também terminam, dando lugar para novas experiências. E talvez um amor pra vida
toda seja possível, quando entendemos onde queremos chegar e trilhamos o
caminho necessário, sem nos permitir estagnação e sensação de sufocamento ou
insegurança. Bons relacionamentos são claros e acordados, não baseados em ver
no que vai dar. Vai dar sempre em algum lugar, mas saber o que queremos
facilita o movimento dessas uniões de vidas e planos. A união entre duas almas
é querer chegar juntos em algum lugar, sempre em movimento, sempre indo além.
Hoje
posso sentar-me neste local cercada de flores e observar o meu redor, reinando
esse espaço que me cerca, observando com mais clareza e de forma mais amorosa o
que me rodeia, o que está no meu caminho, quem caminha comigo. Sei que terei de
continuar a minha caminhada, mas permito-me sentar-me neste espaço mental e
refletir sobre quem eu sou. E posso estabelecer novas estratégias, curar-me,
aceitar que o que ficou para trás precisa partir e continuar o meu caminho que
se estende muito além desse espaço de aconchego, repleta de amor por quem estou
me tornando. Tenho muitos lugares para ir, não posso mais estender as mãos para
o que já não me serve mais. Caminho apreciando as belas chananas em meu caminho
crescendo selvagemente por esta estrada, repousadas por borboletas amarelas. Um
lembrete de que a vida se transforma, independente dos caminhos que se abrem
para nós e onde agora estamos.
Agora
eu só quero estar aqui, repousando, sentindo-me satisfeita pelas minhas
escolhas, sabendo que meus caminhos sempre estiveram abertos e não fui eu a
covarde me escondendo em muros intransponíveis, sempre aberta para resoluções,
para o novo, para encruzilhadas que trouxessem resoluções, certeza de qual
caminho tomar, paz interior, manifestações de novos ciclos nesta constante
história, novas rotas, novos lugares. Eu estou e assim continuo, sentindo um
certo aperto no peito por ver belas histórias desperdiçadas por egos inflados
narcisísticos. Mas isso também passa, assim como o luto mais devastador. Eu já
neguei, eu já me revoltei, já barganhei, agora ainda me deprimo pela história
não vivida, mas aceito aos poucos que fiz tudo ao meu alcance. E sigo em
frente, me permitindo descansar e meditar sobre o que ficou para trás.
Agora
já abraço o novo e posso guiar-me mais leve por essa estrada tortuosa, sabendo
que a terra do nunca se distancia de mim. Não sou mais uma criança esperando
que tudo fique igual, lidando com o medo de me arriscar no mundo real,
isolando-me tentando fugir das badaladas de Cronos. O tempo não para.
Já
não te sinto mais e minhas mãos não se estendem procurando resgatar-te desse
abismo. Agora entendo que ali é o seu lar e você conforta-se com a vida que
construiu ao seu redor, mesmo com rachaduras destruindo as frágeis paredes que
você levantou para se refugiar intocável. Que mantenham-se firmes enquanto você
isola-se. Quod per sortem sternit fortem.
Hoje
mergulho neste lago como uma sereia mesmerizante, celebrando os movimentos que
a vida faz, levantando as taças repletas de sentimentos amorosos, pausando e
aproveitando aquilo que me é oferecido, pois nunca saberemos o que nos espera
se nos entregarmos a negação. Fique bem. Te amo, mas já não te espero mais.
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