segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Encarceramento


Hoje amanheceu e os meus sonhos se confundiam
Com a chuva que insistia em bater na minha janela
E era tudo ventania em meus ouvidos
Daqueles que um dia estavam ao meu lado
E já não sei mais para aonde eles caminham.

Nos meus sonhos as minhas mãos bloqueiam portas quebradas
Impedindo a entrada dos que querem me machucar,
Pessoas de bem que estão acima de todos
E querem escancarar as portas da minha liberdade ferida
Para marcarem na minha pele o vermelho do meu sangue descartável.

E então eles me cercam e me prendem os braços,
Já não podendo me mover, me arrancam os lábios,
Já não podendo mais falar, me mutilam as pálpebras,
Já não podendo mais fechar os olhos só me resta esperar
Que o tempo seja rápido e daqui me arranque para outro lugar.

Os mortos-vivos mal esperam poder comer a minha mente
Os meus pensamentos os ferem e a eles só resta me zumbificar
Que eu fique calada, acuada, parada, seguindo a mecânica do relógio
Enquanto vejo o tempo ao meu redor mudar e eu já estar resumida a nada,
Sonhando com o dia que ainda podia acordar e não me sentir encarcerada.

Priscila de Athaides – 22/10/2018

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