As luzes se acendem, mas já não parecem mais iluminar o ambiente
É uma pálida imitação de dias que já não retornarão
O futuro revela-se em penumbras, empalecido diante do chão percorrido
E os passos são tortuosos, tateando o frágil chão que se alonga à frente
Eu vejo corpos que se acumulam em minha porta me dando bom dia
Eles encaram o sol do amanhecer sem saber o que a noite revelará
Eu os vejo respirando o ar que lhes enchem os pulmões de veneno
E tossindo os ventos da vida, que se esvaem em ofegante fadiga
E não há alguém que nos comande, não há quem lute por dias melhores
Existe uma fila de pessoas caminhando lentamente para o sacrifício
Jogando as moedas penosas aos céus, sem saber qual lado decidirá as suas vidas
Somos milhões descartáveis, pois outros milhões estão aguardando a nossa ida
Para aonde iremos depois que acordarmos desse pesadelo suspenso?
Talvez para um velho futuro que esteja nos aguardando com braços que nos moem
Sorrindo em tenebroso silêncio, maliciando nossos sonhos que apodrecem
Para nos ver nos reconstruindo, esmagados demais para os dias límpidos
As luzes se ascendem, mas diante de mim vejo outros que não me vejo
Distorcendo a realidade em fúteis mentiras que os enforcam
E eu transcrevo a tímida verdade de meus dedos enfurecidos e cansados
Perdendo a batalha para esses ensandecidos monstros assustados
Priscila de Athaides – 09/05/2020
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