quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Pesados


Certa vez me falaram que o meu problema é sempre tentar me apoiar no outro. Me apóio no outro porque sou metade. O outro é sempre a busca de mim, o outro é a tentativa de  alcançar a extensão do eu. Eu busco um complemento e me respondem solidão.

Platão costumava dizer que as nossas almas foram partidas ao meio e que nossa metade está perdida no outro, até nos encontrarmos. Mas Platão dizia que nossas almas pesaram, elas caíram na terra porque estamos impuros. Nosso mundo é imitação, igual ao de cima, igual ao de baixo. O outro se torna pesado, recai sobre nós e nos suporta, mas não nos entendemos. É a exata metade do nosso mundo, e não aceitamos que aquilo pertença a nós. O outro não existe porque somos um. É o outro lado da mesma moeda. O outro nos enche de seu próprio ego, entregamos o nosso próprio ego afim de que se encarem e se reconheçam. O ego entende apenas a sua língua. É um cego composto de sete bocas, todas falam mil línguas que nos tonteiam.

Respiramos para alimentar o corpo de oxigênio, expulsamos as nossas impurezas, assopramo-las pro mundo. Estamos enraizados, extraímos o máximo do mundo, queremos sugar o universo para nossas barrigas, explodimos e não percebemos que explodimos sozinhos, porque estamos unidos, partes de uma única célula, somos um só e nós não conseguimos enxergar o todo. Estamos preocupados com nossas próprias células cancerígenas, enxergamos tudo por pequenas partes. Aprendemos tudo por compartimentos.

E ousamos apontar pro outro e nos julgar melhores, nos sentimos mais puros. Queremos nos projetar, o outro não é o que somos, é a outra parte de nós. Todos caminham no mesmo mundo, nessa dimensão, e todos vivem suas próprias histórias, suas próprias dimensões. Apontamos para o outro apontando pro espelhos, e não nos vemos por inteiro, nossas costas são o ponto cego. O que vemos de frente é um pequeno pedaço do todo.

Somos ignorantes da nossa própria existência e o crescimento nos corrompe enquanto nos completa. A sabedoria é a sujeira da alma. A ignorância a sujeira da mente. Precisamos nos sujar pra pesarmos nossos pecados na morte, e então procurar não mais pesar nossos corpos nesse mundo e retornar para o que está perdido em nós. Para nós mesmos. E então precisamos do outro, porque a nossa alma está dividida e existe parte de nós perdida no mundo, aguardando que um dia retornemos as origens para conseguirmos  partir além. Aqui é só um fragmento de nós. Não entendemos o tempo, não entendemos o espaço, vemos tudo como o agora. E o tempo nos mata enquanto respiramos.

Priscila de Athaides 12/08/2009

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito legal, Moon!

identifico com tanta coisa aí...

adorei as referencias =)

Priscila de Athaides Ribeiro disse...

Estou me sentindo um velho sábio... hauhauahuahauahauahauhau...

Anônimo disse...

Mas irmã mais velha não é pra funcionar assim mesmo?