sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Viagem noturna ou O primeiro cinema


O homem deitou-se em sua cama e leu o céu de mil pretéritos. As estrelas lhe contavam histórias de futuros ainda distantes que se deslocavam pela história. E lá, acima de tudo, a lua repleta de fases acompanhava-o em seus pensamentos noturnos. O homem fechou os olhos e flutuou até o satélite prateado, alcançando o sorriso minguante de Selene, aquela que acendia as estrelas com a sua carruagem, buscando no rosto do viajante a face do amante terrestre. Aprisionou-o então às suas crateras, apontando para o azul redondo que marcava o universo negro. Sua terra, seu lar, seu mundo longe das suas mãos pequenas em face ao mundo da deusa.

Hélios, acompanhando o adeus da sua irmã, carregou o viajante de volta a sua cama e adentrou sua janela. Seus raios avisavam que o dia já invadira as portas das fábricas que transformavam o azul celeste em cinza concreto. O homem vestiu o seu terno, calçou os seus sapatos, ajeitou os poucos cabelos que ainda restavam e seguiu os proletários que tentavam alcançar as próprias sombras marcadas no passeio como ponteiros de passos atrasados.

Desviou-se para a casa dos risos, e no palco dos loucos reconheceu seus sonhos. Dançavam mulheres como mariposas, crianças faziam performances que lembrava-o da infância, homens de cara pálida fazia-o rir de suas tragédias, mágicos enganava-o com truques de luz e mágica, os poetas declamavam seus amores perdidos e o homem sonhava com seus sonhos encenados, guardados na história, com o seu nome transpassando os tempos e marcado na história.

Quis então entregar os seus sonhos ao espetáculo vaudeville. Criou a caixa dos sonhos e captou imagens eternizando-as. Projetou nas paredes o seu mundo burlesco. Apresentou ao mundo o trem chegando à estação, criou demônios que dançavam enquanto lançavam fogos de suas mãos, cartazes criavam vidas, cabeças eram desconectadas dos corpos e ainda assim sorriam, mulheres deixavam os seus corpos nús a mostra, crianças faziam travessuras, o tempo congelava. E eis que o homem levou o mundo à lua, transformando a realidade em algo além do alcance das mãos. É o homem desperto vivendo o seu mais antigo sonho de alcançar os céus e transformar-se em estrelas. O homem entregou o seu corpo ao cinematógrafo e transcendeu a própria morte.

Priscila de Athaides – 21/08/2009

2 comentários:

Eliana Mara Chiossi disse...

Pri,

acho que ficou mais leve mesmo.
O texto é muito bonito. Agora, quando puder, tente observar que alguns adjetivos ficam mais pesados, porque dão informações demais ao leitor.
Você tem fôlego e escreve com facilidade. Se você investir nesse trabalho da criação literária, tua escrita vai dar um salto de qualidade incrível.

beijocas

Priscila de Athaides Ribeiro disse...

Bom, eu acredito muito nessa aula de criação e sei que na primeira vez que fiz cresci muito na minha escrita! Creio q tenho mto o q aprender ainda sim!
Mto obrigada pelas palavras prof. Eliana!