Foi fácil te caçar, presa. Vocês humanos são tão cheios de luxúria, tão cheios de curiosidade. Nós estamos sempre famintos. Apenas um suspiro, um pouco de carne a mostra, um jeito sedutor de olhar, de dançar. Pronto. Você é meu. Mas não se engane, não passa de combustível, e vai permanecer dentro de mim até a próxima fome. Tão frágil essa vida humana. Efêmera.
E eu adoro a cor do seu sangue, esse vermelho, esse vermelho quente, esse vermelho quente e saboroso. Adoro lambe-lo do seu pescoço, te ouvir sussurrar de medo, te ouvir dar o último suspiro, e ainda assim, enquanto morre, te ver entrar em êxtase, ver você gozar. Acho tão patético, eu rio da sua cara. Como é fácil dar prazer a vocês, até mesmo no momento mais aterrorizador. Mas é isso, querido. Eu te faço gozar, você me alimenta. Boa troca não?
Não vou negar, adoro lamber esse gozo das suas cochas, logo após acabar com a sua vida. Ele permanece quente, dá ao sangue um gosto especial. É talvez o mais próximo que eu me aproximo da vida. A sua semente, a sua herança em meus lábios, perdida. É saborosamente irônico. Por isso prefiro vocês às mulheres, com as suas lubrificações, as suas vaginas frenéticas. Mas a forma como elas gozam! Como adoro ver as mulheres se contorcendo enquanto morrem. Por isso vou direto ao ponto, mordo o clitóris. E elas gritam de dor, de prazer. Adoro! Mas nada se compara a vocês, cavalheiros. Exceto quando a mulher está amamentando. Isso desperta em mim o lado mais humano. O leite maternal. Isso me faz chorar todas as vezes. É nesse momento que eu gozo. Saber que estou tirando pra sempre a mãe dos infelizes, o colo, a comida, o conforto. Eu juro, isso é tão bom! As vezes eu me alimento das crianças, é interessante. Sangue virgem. Mas é das suas mães que o verdadeiro prazer vem. Do seu leite. É esplendido.
Não sei te dizer se o que eu faço com você é uma maldição ou uma benção. Você verá o mundo pela última vez, e ele será os meus olhos, redondos, vazios, azulados, assim como o seu planeta. Aterrorizador não? Não adianta se desesperar, não adianta me bater, a sua força é nada diante da minha. Eu estou aqui há muito tempo e não há nada que você possa fazer para adiar o seu fim. É aqui, é agora e é comigo. Au revoir.
Priscila de Athaides – 14/10/2009
Um comentário:
Então, Pri, gostei do conto sim, apesar de não encará-lo como vampiresco, pareceu-me que você estava fazendo uma metáfora, talvez inconsciente. Só o quarto parágrafo é que achei que ficou meio perdido, fugiu um pouco da linha que você vinha seguindo. Mas, no último você retoma a linha da narrativa. Ficou legal!!! Parabens... E continue sempre, não desista. Você tem talento.
Um abraço,
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