Parte XVII
Hoje eu
me peguei pensando sobre o que que quero em um relacionamento. Acredito que
apenas aceitamos aquilo que vem e por isso estamos sempre tão perdidos em nosso
caminho, aceitando qualquer desvio que parece oferecer algo agradável, mas que
não nos comporta. Proponho esse exercício: Converse contigo mesmo sobre o que
você quer em um relacionamento e analise se a pessoa que está ao teu lado pode
te entregar o que você de fato precisa e quer. Se não, compartilhe com ela o
que você busca em um relacionamento e veja se ela pode te dar isso, se vocês
podem chegar em um denominador comum. Caso os seus planos não estejam
alinhados, talvez seja o momento de vocês reverem se vocês querem estar juntos
de fato ou se o que vocês têm hoje é realmente bom para ambos. Porque estar bem
com o que você tem importa também, desde que você esteja confortável com essa
situação. Mas se não for o caso, reavalie e siga o seu caminho, se você puder. Au
revoir. Não tem nada de errado em reconhecer que o que você tem não é o
melhor para você. Pelo contrário, na verdade, ir atrás do que você realmente
quer demanda uma força interna gigante. Mas é necessário que a gente se dê o
que queremos e precisamos. É a nossa vida e devemos buscar plenitude nela,
evoluir nela, alcançarmos felicidade nela, sabendo que felicidade não é constância
e nem eufórica, mas a junção de pequenas coisas em nosso cotidiano. Precisamos
saber apreciá-las.
Mas
afinal de contas o que eu quero? Sabe quando você conhece uma pessoa e você
percebe que pode conversar sobre qualquer coisa com aquela pessoa e um assunto
leva a outro que leva para outro e leva para outro a ponto de você começarem a
ver vários pontos em comum e entender os seus gostos e visões de mundo? Então
você começa a compartilhar uma infinidade de coisas com ela: Ouça isso, veja
esse vídeo, assista a aquele filme, leia esse texto. E então, quando você menos
espera, você começa a perceber que tudo te lembra essa pessoa e que você quer
compartilhar o seu mundo com ela. E quando vocês se encontram você sente uma
boa sinergia, o toque da sua pele é magnético, o cheiro da pessoa te agrada, a
textura do seu cabelo, a forma como ela te olha enquanto você fala, como você
se pega hipnotizado pelo que a pessoa tem a te falar. Tudo o que você quer é
estar naquele momento apenas sentindo as várias particularidades daquele ser
humano, trocando todo o tipo de experiências. E tudo vai se desenvolvendo de
uma forma orgânica, seu beijo combina, seus corpos se encaixam, vocês se levam
ao gozo, você se sente à vontade para compartilhar a cama juntos. E então vocês
percebem que querem aquilo, que querem mais e todas as vezes que vocês se encontram,
mais o nível de intimidade entre você cresce e já estão tão à vontade com os
barulhos dos seus corpos, suas rotinas, os seus cheiros humanos, os seus
hábitos estranhos. Vocês começam a ter piadas internas, são bobos um com o
outro, compartilham seus traumas e suas histórias de vida a ponto de você se
dar conta que conhece tanto essa pessoa, toda uma vida, toda uma complexidade
que os seus mundos já foram totalmente afetados e transformados. Vocês já não
são mais os mesmos.
E eu
quero ser o centro amoroso da vida dessa pessoa. Quero construir uma vida junto
a ela, compartilhar o meu espaço com ela e ter o espaço dela compartilhado
comigo. Mas que tenhamos direito à nossa individualidade. Que possamos sair,
que possamos ter nossos momentos de solitude, que possamos ver os nossos
amigos tranquilos sem haver nenhum tipo de controle ou brigas, que possamos
comunicar o que sentimos, as coisas boas e as coisas ruins, e sentirmos que estamos
sendo acolhidos. Quero alguém que esteja alinhado comigo, mas que continue
fazendo as mesmas coisas que fazia antes, que não se afaste dos amigos nem da
família. Mas que tenhamos os nossos momentos apenas entre nós também. Que a
gente possa ir pro cinema juntos, coma em restaurantes juntos, cozinhemos juntos,
passamos uma noite comendo e bebendo juntos e rindo de tudo até passarmos mal
enquanto ouvimos música, que comecemos a ver séries juntos e passemos horas
conversando sobre teorias, que a gente tenha filmes favoritos juntos, nossos
fomes, nossas músicas, nossos momentos. Que a gente receba nossos amigos em
casa e passemos uma tarde jogando, comendo pizza, bebendo cerveja e falando
besteira, e que nossos amigos sejam todos bem-vindos e se sintam bem conosco, que
saiam da nossa casa sentindo que tiveram um momento super agradável conosco e
que somos ótimas companhia, pois não há momentos estranhos e nem estranhamentos.
Mas que também possamos ir ao cinema sozinhos, porque aquele filme de terror
não agrada a ele e o filme de ação que ele gosta não é interessante o
suficiente para mim a ponto de pagar um ingresso, e tudo bem. Não vamos deixar
de fazer o que gostamos porque o outro não quer fazer. Que possamos passar um
dia vendo uma série que o outro não gosta tanto enquanto o outro passa o dia
jogando videogame, sem sentir que temos de fazer companhia um ao outro,
respeitando os nossos momentos sem ficar em cima ou achando que porque somos um
casal, só podemos fazer coisas juntos. Que possamos sair com os nossos amigos sem
a companhia um do outro sabendo que não precisamos ser controlados ou
monitorados, pois confiamos em nós.
Que
possamos compartilhar tudo sabendo que a pessoa vai nos ouvir, que vamos buscar
soluções juntos, que vamos nos apoiar, nos acolher e entender o que queremos
falar, sem o peso do julgamento, sem brigas, sem imposições. E que não exista
segredos entre nós, mas não porque existe uma necessidade ou um pacto dentro do
nosso relacionamento, mas porque gostamos tanto de compartilhar nossas coisas
que queremos contar tudo o que acontece conosco todos os dias. Que não haja
jogo, ou medo de falar algo e a pessoa se afastar ou achar que somos loucos –
ou até ache, mas de uma forma adorável. Que possamos assumir que admiramos
outras pessoas e que possamos ter desejos sexuais fora do nosso relacionamento,
mas que não passa disso, pois no final das contas, queremos estar juntos e não
desperdiçar o que temos por qualquer pessoa que apareça, pois queremos uma vida
juntos e nos satisfazemos, mas somos humanos. Que a gente seja nós. É isso o
que eu quero, uma pessoa com quem eu possa ser eu, nos níveis mais íntimos de
mim, e ela olhe para mim e pense o quanto ela é privilegiada e o quanto me
admira e ama estar comigo, mesmo quando não nos entendemos, mesmo quando não
concordamos um com o outro, mesmo quando brigamos. E que a gente saiba lidar
com esses momentos, pois somos seres complexos e não podemos estar sempre bem
um com o outro. Mas que possamos lidar de forma madura e que façamos de tudo
para nos resolvermos. E que a pessoa fique, não importe o quão difícil esses
momentos pareçam ser. Que a pessoa sempre me escolha.
Que essa
pessoa seja sempre cheia de comunicações, que haja em busca de resolução e de entendimentos,
que a pessoa demonstre que está ali e que está considerando tudo o que conversamos,
que haja sempre trocas, que respeitemos o espaço um do outro e os nossos
momentos. E que seja natural, que seja nosso, que seja algo que simplesmente é,
pois estamos alinhados. Que sempre foquemos em nossas qualidades ao invés de
nos colocar para baixo ou apontar os nossos defeitos (e que a gente ame os
nossos defeitos, pois fazem de nós únicos e complexos, fazem parte de nós
também), que nossas piadas sejam sempre para nos elevar ao invés de nos
diminuir, pois queremos evitar momentos constrangedores ou fazer com que o
outro se sinta mal de alguma forma. Mas que quando algo que fizermos nos machuque
de alguma forma, que possamos conversar e procurarmos melhorar a nossa atitude.
Que a gente cresça juntos. E que a gente evite usar os nossos complexos e
traumas um contra o outro.
E quando
eu encontrar essa pessoa, quero construir uma vida ao lado dela, um lar, uma família.
Quero que seja duradouro, que a gente crie planos juntos e faça-os acontecer. O
fortuna. Que possamos morar juntos, que possamos criar uma rotina juntos,
uma comunhão. Que a gente cresça materialmente e nos apoiemos em nossos
projetos, que nos ajudemos, que nos alinhemos. Que a nossa casa seja uma
mistura de nós, a nossa estética, nossas plantas, nossos gatos, cachorros,
pássaros, nosso cheiro, e o que mais tiver de ser. E que tenha um quintal para
que possamos nos sentar ao fim de um longo dia de trabalho e possamos apenas
olhar para o céu e apreciá-lo, em um silêncio confortante, bebendo uma taça de
vinho e comendo uma comida bem confortante, contemplando o que construímos
juntos, agradecidos. Que a gente se ajude nos trabalhos domésticos, mas também
que não nos cobremos, que saibamos dividir esse trabalho igualitariamente, mas sem
ficar no pé um do outro. Que a gente não se sobrecarregue, mas que nos
equilibremos. E que a gente sempre celebre a nossa vida, que a gente sempre se divirta
um com o outro. Que essa pessoa sempre me faça rir e que eu sempre a faça
gargalhar com minhas piadas bobas e o meu sarcasmo. Que ela se empolgue junto
com a minha empolgação com as coisas e que eu possa a escutar quando ela fala
sobre as coisas que ama fazer e também me empolgue com elas. Que possamos fazer
o que amamos juntos. Que eu olhe para ela
e fique encantada com a sua beleza única, que eu passe a mão em sua face com
uma enorme admiração, que os nossos dias sejam repletos de palavras amorosas e
toques carinhosos, beijos acolhedores e abraços acalentadores. Que seja real
amor repleto de companheirismo. E há de ser. É. Está feito. Eu sei que essa
pessoa está logo ali, ao alcance das minhas mãos, aguardando o tempo certo para
nos encontrarmos, para termos esse mesmo propósito de vida, pois já vivemos
histórias que não nos comportam mais e já sabemos o que queremos baseado nas
coisas que vivemos e não foram, já que nós somos a nossa história e vamos nos
reconhecer um no outro quando nos encontrarmos.
Então sigo
caminhando para esse horizonte esmeraldino para além dos campos de papoula, em
busca do meu lar. Em meio a tantas desventuras e confusões internas, eu sei que
olhar ao meu redor, estar em contato com a minha essência, viver o agora e me
centrar na terra que me aterra me faz ver claramente a miragem que se forma em
minha frente e se solidifica. Posso quase tocar, está bem ali. Você aí no
abismo certa vez me perguntou o que eu queria e eu não sabia te dizer o que. Agora
eu sei. Me pergunto se você poderia me dar tudo isso, algo tão simples e tão
complexo, e creio que muito provavelmente não. Mas saber o que eu quero torna a
jornada mais leve, pois sei que o que ficou para trás não me servia e agora
posso estar em busca do que me abarca. Em paz.